REVISTA ÉPOCA
Nestor Cerveró, o ex-diretor da Petrobras que ficou famoso por proibir máscaras de Carnaval com sua estampa, foi condenado a cinco anos de prisão. Por quê? Porque usou propina do petrolão para comprar um apartamento em Ipanema. A pergunta que o gigante adormecido se recusa a fazer é: não pode usar propina do petrolão para comprar apartamento, mas pode para se eleger presidente do Brasil?
A resposta é: pode, mas não pode. Uma resposta estranha. Não pode, porque o tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto está preso sob acusação, entre outras, de injetar propinas do petrolão na campanha de Dilma Rousseff. E pode porque a presidente supostamente beneficiada pela propina não é sequer investigada. Pois bem: após a torrente de evidências levantadas pela Operação Lava Jato sobre formação de caixa para o PT a partir da corrupção na Petrobras, Ricardo Pessoa, o homem-bomba das empreiteiras, solta a língua. Pagou R$ 7,5 milhões à campanha presidencial de Dilma em 2014 para não perder negócios com a Petrobras.
Essa revelação, feita em regime de delação premiada, expõe de forma contundente o esquema de sangria da maior empresa brasileira em favor do partido governante. Um detalhe: as informações obtidas pela justiça por meio das delações premiadas são a base do balanço oficial auditado da Petrobras, no item das perdas com corrupção. A bomba de Ricardo Pessoa deve, portanto, ensejar no mínimo a abertura de investigação sobre a legitimidade do mandato presidencial de Dilma Rousseff - obtido em circunstâncias que levaram à prisão o então tesoureiro do PT.
Só que não... Numa sinfonia tipicamente brasileira, onde as verdades dançam conforme o DJ do comício, um pas de deux entre o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal celebra o milagre da inocência de Dilma. Abobado como sempre, o Brasil assiste aos rodopios jurídicos dos bufões oficiais e murmura para si mesmo: "É, não tem como investigar a presidenta...".
Pobre país. Tem seus espasmos de protesto, mas não sabe nem o que escrever na cartolina. O STF é transformado em sucursal do PT, com ninguém menos que Dias Toffoli - o juiz de estrelinha - presidindo o processo da Lava Jato, e o Brasil indignado passa lá longe gritando contra a corrupção (sabe-se lá qual). Deve ser glorioso você fazer toda uma carreira de bajulação a Lula e companhia, tornar-se feliz para sempre na corte suprema e assistir tranquilo pela TV aos protestos cívicos. Deve distrair mais do que novela.
Agora Nestor Cerveró, diretor de negociatas e facilitador da sucção petista, é condenado na Lava Jato sem uma gota sequer de respingo no Palácio. Protagonista do escândalo de Pasadena, uma das refinarias que encobriram desfalques bilionários na Petrobras, ele concretizou o negócio a quatro mãos com Dilma, a inocente. A decisão bizarra foi assinada por ela, como presidente do Conselho de Administração da companhia — em 2006, quando o esquema do petrolão já tinha três anos de peripécias montadas por prepostos do PT, coincidentemente o partido de Dilma. A presunção de inocência dela já fez o apresentador inglês John Oliver cair na gargalhada. Deve ser engraçado mesmo, para quem vê de fora. Se Cerveró usasse a máscara carnavalesca de Dilma, estaria livre.
E eis que o governo popular é condenado pela Comissão de Valores Mobiliários por fazer uso político da Eletrobrás — lesando a companhia com seu artifício esperto de baixar a tarifa de energia no grito. Eletrobrás e Petrobras depenadas pela administração Dilma Rousseff, através de expedientes ilícitos para a compra de poder político com o dinheiro do povo. Os sucessivos rombos administrativos são maquiados com as pedaladas fiscais — crime de responsabilidade. E o colapso nas contas públicas é remediado com aumento de impostos e cortes que não arranham a burocracia estatal partidária.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou, a respeito do ajuste fiscal, que o governo petista está pagando seus pecados. Não é verdade. Quem está pagando os pecados do governo petista são os contribuintes. E os companheiros continuarão pecando alegremente até que o Brasil acorde da anestesia — e exija a única medida realmente saneadora à disposição no momento: a investigação de Dilma e Lula.
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