quinta-feira, agosto 25, 2011

ALBERTO TAMER - À espera de Bernanke


À espera de Bernanke
ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 25/08/11

Sim, todos estão esperando para ver se o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, anuncia ou pelo menos sinaliza, amanhã, no fórum dos bancos centrais dos Estados, em Wyoming, se pretende injetar mais liquidez no mercado para afastar o novo risco de recessão. Foi o que fez exatamente há um ano, no mesmo fórum, quando anunciou a compra US$ 600 bilhões, uma operação encerrada em junho passado. Ao todo, desde a crise de 2008, foram US$ 2,8 trilhões diretos ou indiretos do Fed e do Tesouro, que impediram o pior e só não deram mais resultados porque as empresas e os consumidores americanos perderam a confiança que ainda restava no Congresso e no governo. Uma confiança ainda mais abalada pelos últimos acontecimentos políticos e o rebaixamento da nota dos Estados Unidos pela Standard & Poor"s. O dinheiro ocioso continua acumulado nas caixas dos bancos.

O que você querem? Ainda ontem, o presidente Barack Obama se reuniu com empresas perguntando o que precisam para voltar a contratar e promete anunciar medidas de emergência no dia 7 de setembro, mas tem as mãos amarradas pelo Congresso. No mesmo dia, ao saber que o UBS demitiria 3,5 mil empregados, ofereceu-lhe empréstimo de US$ 20 milhões para que conserve pelo menos 2 mil empregos. Motivo, os cortes representariam perda de US$ 70 milhões na receita.

Sim ou não? Os analistas estavam divididos, ontem. Uns achavam que, de uma forma ou de outra, haverá uma nova injeção de liquidez, outros acreditam que Bernanke vai reafirmar o que tem dito nos últimos dias: o Fed está comprometido com o crescimento, os juros ficaram negativos mais dois anos e todas as cartas estão na mesa. Nesse clima de incerteza, as bolsas europeia e americana fecharam novamente em alta, o que foi interpretado pelos investidores como expectativa de que virá um sinal positivo do Fed. O que se espera é mais turbulência no mercado se nenhum estimulo monetário for decidido agora. É um cenário pouco sustentável por muito tempo e agravado agora pela situação na zona do euro. "Pode-se não estar no olho do furacão, mas na calmaria que antecede as tempestades", afirmava outro analista de Wall Street

O Brasil no sim ou não. O Brasil deve estar preparado para se vier amanhã um sim ou um não de Bernanke, mesmo porque o Fed terá de agir em breve, pois a economia americana não dá sinal de reação e a mundial, que poderia ajudar, está desacelerando. Seja agora ou logo mais, a previsão é que haverá mais emissão de dólares, mais liquidez no mercado financeiro internacional. Será mais dinheiro entrando no Brasil que continua mantendo as portas abertas.

Um desafio agradável. Os dólares devem continuar entrando por todos os lados, agora também pela via comercial com o expressivo aumento do preço das commodities, que só devem recuar se houver uma desaceleração ainda mais forte na economia mundial. É um afluxo crescente que representa um desafio bom, mas desconfortável porque valoriza o real. O Brasil tem excesso de investimentos que faltam lá fora.

O petróleo da Líbia. A queda de Kadafi e a perspectiva de que o país voltará a exportar petróleo não deve pesar muito nos preços e vai acabar ajudando. Não se espera que o país volte a produzir 1,6 milhão de barris por dia de petróleo leve, como antes, mas até 600 mil barris nos próximos meses. É um erro falar em repetição do Iraque, onde Saddam destruiu campos de produção e houve guerra mais longa e não revolução. Os preços tendem a manter-se em níveis baixos.

E viva o novo desafio. De novo, o cenário é favorável para o Brasil e só pode tornar-se mais incômodo se realmente o Fed indicar amanhã que pretende voltar a emitir e injetar dólares no mercado financeiro ainda este ano. Dólares, que mesmo sendo incorporados às reservas, continuarão desvalorizando o real. Mas, como dizem os otimistas generosos, ao contrário dos pessimistas persistentes, não é um problema considerando a tempestade que se forma lá fora.

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