Unhas de fora
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 30/09/11
Depois dos anos de marasmo sindical da era Lula, quando só pipocava uma greve pontual daqui, outra dali, Dilma convive, já no seu primeiro ano, com um festival de greves, todas importantes e quase que simultaneamente. Mais: são em geral lideradas pelo setor público e em áreas estratégicas.
Há, ou acaba de haver, as greves dos Correios, dos professores de Minas e do Rio, de universidades, de metalúrgicos, de motoristas de ônibus no DF e de bancários, à frente os do BB e da CEF.
Algo interfere, portanto, na troca de Lula para a afilhada Dilma. Poderia ser a crise internacional, mas o impacto é praticamente invisível a olho nu. Poderia ser a inflação um tanto rebelde e oscilando fora do centro da meta, mas isso continua restrito à numerologia.
Quem sabe uma queda no nível de empregos? Nada disso. Ao contrário, o Brasil vive “praticamente em ambiente de pleno emprego”, na versão de Dilma para centenas de chefes de Estado na ONU.
Bem, se não é crise, não é inflação, não é desemprego, algo mais ocorre no reino da Dinamarca e do sindicalismo brasileiro, amortecido com o ícone Lula e rangendo os dentes com Dilma – que não fez carreira política em tamborete de porta de fábrica e é do PT por conveniência e praticidade, não por origem e convicção.
O fato é que carteiros, bancários, professores, metalúrgicos e até médicos que pararam contra planos de saúde estão não apenas se movimentando como atiçando cidadãos comuns que saem de casa para estudar ou trabalhar sem receber suas contas, às vezes sem ônibus, sem dinheiro e sem saber onde deixar o filho.
Além de ser de “pleno emprego”, o ambiente é também de interrogação. Trata-se da normalidade sindical que havia sido perdida? Da cobrança da fatura dos arroubos populistas de Lula? Ou de um sintoma de que o Brasil e os brasileiros não estão exatamente no paraíso?
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