No hay gobierno? Soy a favor
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 30/09/11
A Bélgica que a presidente Dilma Rousseff visita a partir de segunda-feira está completando 475 dias sem governo, todo um recorde mundial.
Sem governo é maneira de dizer: seus políticos não conseguiram se entender para formar um gabinete efetivo, depois das eleições de junho do ano passado. Em sendo assim, governo há, mas se trata de uma administração em funções apenas com poder de fogo limitado ao mínimo.
Não obstante, a Bélgica cresceu, no segundo trimestre do ano, mais que a formidável locomotiva chamada Alemanha. Para o conjunto do ano, a previsão é de crescimento de 2%, índice que se poderia chamar de chinês se se levar em conta a anemia econômica da Europa.
As más línguas (ou as boas, você decide) dizem até que o crescimento não é APESAR da ausência tão prolongada de um governo efetivo mas justamente POR CAUSA dela. Explico: como não há um governo com força suficiente para decretar um ajuste fiscal, ação que se tornou obsessiva nos parceiros europeus da Bélgica, não há, em consequência, esse freio à atividade econômica.
Pode ser, pode não ser. Mas, à primeira vista, o país não parece sentir a falta de governo. É verdade que houve, tempos atrás, manifestações públicas cobrando a formação de um gabinete efetivo. Há poucos dias, os oito principais partidos até chegaram a dois acordos em torno de temas que dividiam o mundo político entre os flamengos (holandeses) do Norte, mais ricos, e os valões fracófonos e mais pobres do Sul.
Mais pobres em termos belgo-europeus. Se os pobres brasileiros fossem pobres como os pobres belgas, que beleza, como diria Milton Leite, esse excelente locutor da Sportv.
Não vou entrar em detalhes sobre a divergência, mais antiga que a própria Bélgica e mais chata do que dizem ser o próprio país. Não concordo, diga-se. Um país que tem o volume de informações disponíveis em Bruxelas não consegue ser chato nem que se esforce, mas admito que essa é uma visão pessoal, de alguém absolutamente viciado em informação.
Além disso, com ou sem governo, a Grand Place continua a ser a mais bela praça do mundo, para o meu gosto. Nesta sexta-feira, estava até enfeitada por um mini-piquenique de alunos de primário exibindo o caráter multicultural do país, um negrinho de mãos dadas como uma loirinha, um indiano ao lado de uma branquinha. Não que a xenofobia que está abrindo caminho no mundo esteja ausente da Bélgica, mas o estrago, até agora, é limitado.
Como um país consegue funcionar sem governo? Simples: a administração é tocada por uma burocracia profissional, pouco afetada pelas trocas da superestrutura política. Muda uma camada fina na cúpula, o resto toca a vida, qualquer que seja o partido ou coligação que governe. Agora, por exemplo, discute-se a formação de um governo de unidade nacional formado pelos oito partidos que negociaram o acordo básica que emperrava as discussões.
Enquanto não sai o novo governo, o jornal "Le Soir", o mais importante do lado francófono, divertia-se discutindo o transcendental assunto da falta de um estacionamento para bicicletas no Parlamento. Emocionante, não?
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