Primeira grande personagem contemporânea da era das supermulheres na política, o falecimento de Margaret Thatcher faz suscitar a lembrança da figura central da reconversão ideológica a que a Europa se viu obrigada a partir dos anos de 1980, sob os influxos da queda do muro de Berlim e do ocaso das utopias socialistas. Não isenta de críticas ferozes, sem fazer concessões às políticas sociais e ao paternalismo estatal, seu estilo virulento deu-lhe notoriedade mundial, em particular em momentos de decisões vertiginosas, como na suspensão do leite gratuito para as crianças carentes (o que lhe valeu a pecha de "Thatcher-the-milk-snatcher", a ladra de leite), ou na grave violação de leis de guerra nas Malvinas, ao mandar torpedear de forma sorrateira o cruzador argentino Belgrano, com mais de 500 tripulantes a bordo, em ação fora da zona reconhecida como de combate.
Por 21 anos no poder, como residente habitual de Downing Street 10, a Dama de Ferro venceu três eleições seguidas e mereceu, para o bem e para o mal, o apelido que lhe foi dado. Primeiro lançado como crítica pelos soviéticos, paulatinamente o título foi assimilado e incorporado como virtude política a identificá-la para sempre. Com senso de oportunidade e de profundo conhecimento da sociedade britânica, Maggie soube detectar e vocalizar o conservadorismo latente da classe média, cansada de governos fragilizados e empobrecidos pelo sindicalismo exagerado, pela voracidade fiscal predadora e pelas agendas populistas do segundo pós-guerra.
Apesar de todas as críticas que se lhe podem imputar, sempre instigante e desafiadora, a primeira-ministra britânica confrontou com êxito o espírito do tempo em que viveu, demonstrando que era possível ser popular sem ser populista. Com propostas arrojadas, além de governar rigidamente por sua cartilha, dispensou conselheiros econômicos e marqueteiros, para elaborar seu thatcherismo de resultados - em princípio, apenas uma concepção de oposição aos trabalhistas. De forma herética ao tradicional ambiente político europeu, pregava sua cartilha ultraliberal, de desoneração fiscal, diminuição do tamanho do Estado e não intervenção na economia, com rigor no enfrentamento de sindicatos, de greves e de movimentos populares.
Durante seus governos fez escola, em particular com a política de privatizações de importantes setores da economia, como transportes e telecomunicações, a par da revogação do assistencialismo estatal, sob o drástico lema de que não existe almoço grátis. Foram tempos de austeridade e de enfrentamento social, a demonizar pobres e necessitados, carentes das prestações sociais e dos favores do poder público.
Se suas políticas conseguiram reduzir de imediato a inflação, o desemprego aumentou de forma drástica, desassistido e sem a proteção do Estado, a fazer ressurgir o enfrentamento de classes que parecia ter sido deixado para traz, na dramática história inglesa da segunda metade do século 19. No entanto, depois de Thatcher, nada mais seria igual, mesmo para os governos trabalhistas, obrigados a incorporar muito do thatcherismo residual que se perpetuou.
Apesar da condenação feroz ao neoliberalismo e a sua papisa britânica, parece claro que mesmo governos progressistas, como os de Tony Blair e Gordon Brown, adotaram práticas da dama de ferro, em particular no que concerne à função do Estado e à adoção de privatizações, impensáveis em outras épocas. Tal fenômeno se projetou para fora do Reino Unido, tanto na China e na Rússia, como mesmo no Brasil de Fernando Henrique à Lula e Dilma. Por fim, abstraídas as imprecações de crimes de guerra que possa ter cometido, a dama de ferro consagra-se como paradoxal revolucionária da reação, conservadora e individualista contra a corrente, inconteste como vulto histórico do seu e de outros tempos.
Por 21 anos no poder, como residente habitual de Downing Street 10, a Dama de Ferro venceu três eleições seguidas e mereceu, para o bem e para o mal, o apelido que lhe foi dado. Primeiro lançado como crítica pelos soviéticos, paulatinamente o título foi assimilado e incorporado como virtude política a identificá-la para sempre. Com senso de oportunidade e de profundo conhecimento da sociedade britânica, Maggie soube detectar e vocalizar o conservadorismo latente da classe média, cansada de governos fragilizados e empobrecidos pelo sindicalismo exagerado, pela voracidade fiscal predadora e pelas agendas populistas do segundo pós-guerra.
Apesar de todas as críticas que se lhe podem imputar, sempre instigante e desafiadora, a primeira-ministra britânica confrontou com êxito o espírito do tempo em que viveu, demonstrando que era possível ser popular sem ser populista. Com propostas arrojadas, além de governar rigidamente por sua cartilha, dispensou conselheiros econômicos e marqueteiros, para elaborar seu thatcherismo de resultados - em princípio, apenas uma concepção de oposição aos trabalhistas. De forma herética ao tradicional ambiente político europeu, pregava sua cartilha ultraliberal, de desoneração fiscal, diminuição do tamanho do Estado e não intervenção na economia, com rigor no enfrentamento de sindicatos, de greves e de movimentos populares.
Durante seus governos fez escola, em particular com a política de privatizações de importantes setores da economia, como transportes e telecomunicações, a par da revogação do assistencialismo estatal, sob o drástico lema de que não existe almoço grátis. Foram tempos de austeridade e de enfrentamento social, a demonizar pobres e necessitados, carentes das prestações sociais e dos favores do poder público.
Se suas políticas conseguiram reduzir de imediato a inflação, o desemprego aumentou de forma drástica, desassistido e sem a proteção do Estado, a fazer ressurgir o enfrentamento de classes que parecia ter sido deixado para traz, na dramática história inglesa da segunda metade do século 19. No entanto, depois de Thatcher, nada mais seria igual, mesmo para os governos trabalhistas, obrigados a incorporar muito do thatcherismo residual que se perpetuou.
Apesar da condenação feroz ao neoliberalismo e a sua papisa britânica, parece claro que mesmo governos progressistas, como os de Tony Blair e Gordon Brown, adotaram práticas da dama de ferro, em particular no que concerne à função do Estado e à adoção de privatizações, impensáveis em outras épocas. Tal fenômeno se projetou para fora do Reino Unido, tanto na China e na Rússia, como mesmo no Brasil de Fernando Henrique à Lula e Dilma. Por fim, abstraídas as imprecações de crimes de guerra que possa ter cometido, a dama de ferro consagra-se como paradoxal revolucionária da reação, conservadora e individualista contra a corrente, inconteste como vulto histórico do seu e de outros tempos.
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