Um a um, os excluídos na “faxina” do primeiro ano de Dilma Rousseff recuperam sua influência na Esplanada dos Ministérios
No seu primeiro ano de mandato, Dilma Rousseff conquistou simpatia e respeito por ter tomado atitudes que, na aparência, atendiam ao clamor popular em favor da moralidade na administração pública. A cada denúncia de corrupção – ou de “malfeitos”, o eufemismo que a presidente usava para definir os atos denunciados pela imprensa –, Dilma demitia o malfeitor. A ação logo galhou o apelido de “faxina” – aquilo que qualquer dona de casa faz quando pretende se livrar do lixo ou de objetos sem uso.
Só no primeiro ano do mandato de Dilma caíram Antônio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Pedro Novais (Turismo), Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva (Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho), todos antigos protegidos do ex-presidente Lula, do vice-presidente Michel Temer e do senador José Sarney, ou “donos” dos partidos. Acrescente-se à lista a ex-chefe da Casa Civil Erenice Guerra – essa, defenestrada da pasta ainda em 2010, no fim do governo Lula, depois de comprovada a desenvoltura com que traficava influência em benefício do marido e filhos, metidos em milionários negócios de fachada ou de escassa honestidade técnica ou profissional.
Mais que simplesmente combater a corrupção, os gestos da presidente para muitos representavam uma ruptura com alguns dos mais velhos e nefastos vícios sobre os quais se assenta o que convenientemente se chama de “governabilidade” – a cooptação de facções e partidos políticos por meio do loteamento de cargos e verbas públicas com o fim de garantir que ninguém atrapalhe o que o governo quer fazer. A ação da presidente, na contramão da governabilidade, rendeu-lhe imediatos aplausos e garantiu-lhe, já nos primeiros meses de sua gestão, os mais altos índices de aprovação em todas as pesquisas.
Mas já naquela época havia quem duvidasse da sinceridade de Dilma em sua “faxina”. Afinal, qualquer consulta a reportagens da época mostra que a presidente insistia em prestigiar seus ministros até o último momento. Eles só caíam quando as denúncias se acumulavam ao ponto de tornar a situação completamente insustentável.
Eis que os céticos tinham mesmo razão. Tanto Erenice, embora sem cargo, continua mantendo as mesmas traficâncias como, um a um, os partidos e seus respectivos honoráveis começam a recuperar seus antigos postos. O Ministério do Trabalho, por exemplo, foi entregue, em março, a Manoel Dias, um indicado do ex-ministro defenestrado Carlos Lupi, presidente nacional do PDT. Já o PR voltou a comandar o Ministério dos Transportes com César Borges, protegido do senador Alfredo Nascimento, um dos incluídos na “faxina” de 2011. Paulo Passos, que ocupou a pasta depois de Nascimento, também é filiado ao PR, mas o partido nunca o viu como “seu” ministro, e sim como indicação pessoal de Dilma.
O resumo triste da história: não havia sinceridade e seriedade na “faxina” de dois anos atrás – mesmo porque, embora demitidos sob imensa carga de suspeitas que contra eles pesavam, nem os ministros nem seus auxiliares acusados de envolvimento nas malfeitorias foram punidos pelos supostos crimes que cometeram. E, a comprovar que não se tratava senão de um teatro, os mesmos que foram afastados estão agora, direta ou indiretamente, de retorno aos seus antigos e rendosos nacos de poder.
O que há por trás dessa meia-volta de Dilma? Há 2014, ano em que ela espera se reeleger e eleger o maior número possível de aliados nos governos estaduais e nos parlamentos. Trata-se de uma evidente ação de busca de uma maioria que garanta ao Partido dos Trabalhadores o cumprimento do plano de manter-se no poder por 20 anos, como bradava Lula após assumir pela primeira vez a Presidência. E, para isso, vale “fazer o diabo”, como disse recentemente sua sucessora, igualmente empenhada numa infeliz mexicanização do Brasil, repetindo aqui a hegemonia de que o Partido Revolucionário Institucional (PRI) mexicano gozou durante seis décadas.
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