FOLHA DE SP - 19/08
A Firjan reclama aqui da tarifa, mas a eficiência energética da nossa indústria é bem baixa. Só vencemos a Arábia Saudita, que não se preocupa com isso, claro
Em artigo publicado nesta seção da Folha, no último dia 15, intitulado "Uma luz no fim do túnel", o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do estado do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, defendeu que o pacote anunciado pela presidente Dilma Rousseff para incentivar o investimento em infraestrutura promova a redução de 35% das tarifas de energia.
O presidente da Firjan propõe que o governo elimine os encargos cobrados na conta de luz e diminua o valor pago às geradoras e distribuidoras de energia.
Certamente existem impostos e encargos na tarifa elétrica que podem ser reduzidos ou eliminados, mas a solução apontada pelo presidente da Firjan envolve questões que precisam ser melhor debatidas pelo governo e pela sociedade.
Entre elas, está a própria eficiência da indústria no consumo energético, que ainda está muito distante do que poderia ser.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia, entre os países que integram o G20, o Brasil está na penúltima colocação do ranking da chamada intensidade energética -uma relação unidade de PIB produzida versus consumo de energia.
Quanto menor essa relação, mais bem colocado o país fica. Só ganhamos da Arábia Saudita, o que não é nenhum consolo, já que aquele país não vai se preocupar com a conta de luz enquanto puder queimar e vender petróleo, realidade que só será transformada nas próximas décadas.
Entre 1999 e 2005, a China reduziu a sua intensidade energética em 66%; a Índia, em 45%; os Estados Unidos, em 43% e o Reino Unido, em 44%. O Brasil diminuiu esse índice em apenas 22,7%.
Ora, se mesmo com uma conta de luz cara, a indústria brasileira não melhora sua eficiência para reduzir o preço que paga, que estímulo terá com a desoneração?
Não queremos correr o risco de que o setor abandone a modernização de seus processos produtivos, mantendo-se ineficiente.
A energia é um recurso limitado que deve ser racionalizado. Enquanto a indústria não fizer seu dever de casa, não lhe cabe advogar, como faz o presidente da Firjan, a favor da construção de Hidrelétricas na Amazônia baseadas em grandes reservatórios, que inundam milhares de hectares de Florestas, com prejuízos incalculáveis à Biodiversidade e às populações locais.
A indústria brasileira merece ser apoiada com os recursos que são de todos os brasileiros, mas ela precisa entender que não existe competitividade sem uma produção ancorada no uso racional e eficiente dos recursos e o respeito ao meio ambiente. É o mínimo que ela pode e deve dar em troca.
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