FOLHA DE SP - 09/05/12
Dilma Rousseff não tem a sorte de Lula.
A lentidão da economia mundial, em especial no mundo rico, não anima as exportações. As providências euroamericanas para combater a crise, despejo de dinheiro na praça, ademais encarecem o real e os produtos da indústria. A nova rodada de confusão europeia deve induzir bancos e empresários a jogar mais na retranca. Bancos em particular.
A situação europeia não está feia como pareceu no terço final de 2011. Naqueles meses, o risco de quebra de bancos da eurozona e de calote caótico da Grécia era bem real.
Mas os bancos receberam dinheiro de presente do Banco Central Europeu (empréstimo trilionário e subsidiado). A Grécia recebeu mais empréstimos de emergência e, mais importante, seus credores praticamente deram o fora de lá. Um calote grego, agora, seria ruim, mas não tão ruinoso como em 2011.
Ainda assim, a reação política e eleitoral ao arrocho na Grécia foi tão forte que voltaram à mesa as soluções mais radicais. No mínimo, o caso grego é por ora imponderável -a maioria de esquerda quer tocar fogo nos acordos com União Europeia, BCE e FMI. Mesmo que não vingue o incêndio, há a incerteza que virá com a nova e provável eleição no país.
A incerteza provoca medo, mesmo que materialmente agora a Grécia seja um problema um tanto menor.
Os donos do dinheiro grosso estão desconfiados de que a vitória dos socialistas na França vai colocar água no pacto europeu contra dívidas e deficit de governos. Não deve acontecer grande coisa, mas o fato de a finança mundial voltar à retranca, segurando dinheiro, cobrando mais por ele, pode ser a gota d'água fatal para quem já está com água pelo nariz. Mesmo que não seja, está "todo mundo" (com dinheiro grande) pensando nisso.
O medo retrai os donos do dinheiro, o que provoca mais medo -há uma bolinha de neve rolando por esses dias.
Pode haver "solução feliz" para o medo do mercado diante da reação das urnas? Isto é, uma solução que combine retomada relevante do gasto e investimento público na Europa sem retaliação da finança? Sabe-se lá, mas os entendidos dizem que isso seria viável apenas se os governos europeus "à esquerda" (França) e/ou desesperados (Espanha, Itália) oferecessem "reformas" de peso.
Isto é, mudanças no sistema de previdência, desmonte das leis trabalhistas, capitalização dos bancos europeus mortos-vivos. Vai acontecer? Os socialistas franceses desmanchando o Estado de Bem-Estar Social? Uhm.
Dê no que der, há combustível para pelo menos uns dois meses de tumulto: haverá cúpulas europeias, eleição parlamentar na França, talvez nova eleição na Grécia. Talvez a virada greco-francesa estimule mais protestos em outros países. Isso já dá pano para manga. E molho para bancos e empresas daqui colocarem suas barbas.
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