O GLOBO - 09/05/12
No Rio é assim: o governo cria o problema e a sociedade que encontre a solução. Conforme mostraram no domingo as repórteres Isabela Bastos e Selma Schmidt, as obras da Linha 4 do metrô entre Barra e Ipanema prometem tumultuar o trânsito da Zona Sul e infernizar a vida de seus moradores nos próximos quatro anos. Do projeto, constam a abertura de vários canteiros de obras (só no Leblon serão nove), interdição de praças e ruas, derrubada de mais de uma centena de árvores (da Praça Nossa Senhora da Paz serão removidas 113), circulação diária de 270 caminhões de entulhos e numerosos engarrafamentos, sem falar no fechamento por oito meses da estação da Praça General Osório, construída há menos de três anos. Diante desse quadro, era de se esperar que algumas medidas fossem previstas para pelo menos atenuar o tormento. Mas que nada. As associações de bairro é que estão se virando para encontrar maneiras de diminuir os efeitos do caos, como o uso de bicicletas elétricas ou não, mas desde que não seja sobre as calçadas. A principal sugestão a ser levada às autoridades é a adoção de transporte alternativo em quatro rodas.
"Será um inferno. Vamos propor que micro-ônibus circulem pelo bairro", afirma Evelyn Rosenzweig, presidente da AMA Leblon, lembrando que essa medida já foi adotada com sucesso no bairro. Sua colega de Ipanema, Maria Amélia Loureiro, sugere que a prefeitura autorize linhas de vans, "bem coordenadas com as de ônibus". As duas estão preocupadas também com o impacto sobre o comércio que, como disse Evelyn, "sofrerá um baque".
Em Ipanema, além da associação, há o Projeto de Segurança (PSI), do qual faz parte Ignez Barreto, que está organizando uma "ação de educação patrimonial" para o dia 12, com exposição de fotos e varais com 12 mil assinaturas pedindo a preservação da Praça N. S. da Paz e respeito ao seu tombamento. São frequentadores do local ou moradores, como Fernanda Montenegro, por exemplo. Leitores também têm se manifestado na imprensa. Só ontem, a seção de cartas deste jornal publicou cinco indignados protestos contra as obras do metrô na Zona Sul. O estranho é que, numa cidade tão "verde", os combativos militantes políticos da causa ambiental, no parlamento e no governo, sempre prontos a defender a Amazônia contra qualquer ataque, permaneçam em silêncio diante da ameaça de desmatamento de praças como a N. S. da Paz, em Ipanema, e a Antero de Quental, no Leblon. As árvores que lá vicejam não vicejam como cá? Alô, Aspásia Camargo! Alô, Carlos Minc! Alô, Fernando Gabeira! Alô, Alfredo Sirkis!
Sinal dos tempos. Minha neta Alice, de dois anos e meio, me comunicou que vai ganhar um irmãozinho. Eu perguntei: "É a cegonha que vai trazer, né?" E ela respondeu (com cara de quem diz "não, idiota!"): "Tá na barriga da mamãe."
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