A negociação de três meses para a formação do governo alemão mostrou que é possível unir distribuição de cargos com coalizão em torno de ideias. O novo gabinete que assumiu semana passada é de fato uma mistura dos três partidos e deu uma nova cara à administração de Angela Merkel: mais à esquerda, com mais diversidade, e mais europeísta.
O governo é formado pelos conservadores do CDU, de Angela Merkel, os social-democratas do SPD, e o CSU, também conservador. Pela primeira vez uma mulher comandará as Forças Armadas e pela primeira vez uma pessoa de origem turca terá um cargo no gabinete.
Depois das eleições gerais de setembro, foram três meses de negociação até Merkel formar o gabinete aprovado pelo Bundestag. Antes dela, apenas Konrad Adenauer e Helmut Köhl haviam conseguido governar a Alemanha por três mandatos.
As novidades do gabinete são animadoras. Tanto na área das relações internacionais quanto na área militar foram nomeados ministros favoráveis à intensificação das relações com a Europa; fundamental num momento em que a zona do euro começa a sair da crise, graças, em grande parte, à liderança da Alemanha nos momentos difíceis. No primeiro pronunciamento, Merkel afirmou: Quem quiser mais Europa tem que estar preparado para reajustar algumas áreas de responsabilidade. Ou seja, será necessário mudar alguns tratados.
Dos 16 ministérios existentes - melhor nem lembrar dos nossos 40 - sete serão ocupados pelos conservadores do partido de Merkel (CDU), seis serão ocupados pelos social-democratas (SPD), e três serão do CSU.
O ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, do SPD, é mais influente e proativo que o anterior. Já concorreu contra Merkel, como candidato social-democrata, em 2009, quando o seu partido teve a pior derrota desde a Segunda Guerra. Em 2010, ele se afastou da política para doar um rim para a mulher. O fato elevou muito sua popularidade.
A nova ministra da Defesa, primeira mulher a comandar os militares na história da Alemanha, Ursula von der Leyden, é considerada a provável sucessora de Merkel e vinha defendendo a ideia de um estados unidos da Europa . É mãe de sete filhos e só entrou na política aos 42 anos. O ministro de Estado para Assuntos Europeus, membro do parlamento, Michael Roth, é social-democrata e fortemente pró-europeu. Pertence à nova geração mais moderna do SPD. É considerado um dos mais inovadores pensadores social-democratas. Escreveu um documento muito bem recebido em toda a União Europeia sobre a democracia na Europa, publicado pela Friedrich Ebert Foundation.
O superministro da Economia e Energia, Sigmar Gabriel, é do SPD e foi o grande ganhador das negociações para formar a coalizão. Ele também tem posições pró-europeias. Gabriel foi ministro do Meio Ambiente na primeira coalizão entre Merkel e os social-democratas, entre 2005 e 2009. Antes disso, ele governou a Baixa Saxônia. Além de ter duas áreas decisivas sob seu controle, Energia e Economia, foi nomeado vice-chanceler por Merkel. Ele é que comandará a política de saída da energia nuclear e aumento das fontes renováveis.
Aydan Özoguz será ministra da Migração, Refugiados e Integração. O fato de ser de origem turca é um sinal a favor da diversidade. Mas como o GLOBO publicou, ela tem dois irmãos ligados a extremistas. Nas Finanças, continua o conservador Wolfgang Schäuble, para mostrar que nem tudo é mudança nesse novo tempo alemão.
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