sábado, dezembro 07, 2013

A culpa foi da Nokia... - CORA RÓNAI

O GLOBO - 07/12

O Windows Phone me levou a testar o Surface, mas falta consistência ao tablet da Microsoft e ao Windows 8


Desde que me apaixonei pelo Nokia Lumia 920 e pelo Windows Phone 8, passei a ter grande curiosidade em relação ao Surface, o tablet da Microsoft. O Windows Phone é, para mim, tudo o que um sistema operacional móvel deve ser: rápido, inteligente, bonito. Facilita demais a vida do usuário, ainda que quem já esteja instalado na zona de conforto do iOS ou do Android possa estranhá-lo no início. Assim, no tradicional “dia livre para compras” que tive em Miami, corri para a Best Buy e fui direto à área onde eram exibidos os Surface e seus acessórios. Brinquei um pouco com um deles e fiquei muito bem impressionada com a tela, com o design inovador, com o acabamento primoroso e com o novo teclado (mais caro!) que substituiu o teclado chiclete que naufragou junto com a primeira versão do aparelho.

Eu não estou precisando de um tablet novo, mas ando à caça de um notebook para tomar o lugar do Macbook Air de 11” que me acompanha pelo mundo. Gosto do peso, do look e do design dessa máquina, mas detesto o seu sistema operacional e, sobretudo, as idiossincrasias que apresenta a quem escreve habitualmente num PC. Sempre usei ThinkPads e Vaios, mas, quando o Macbook Air foi lançado, não havia nada semelhante no mundo PC.

O Surface Pro me pareceu, lá na Best Buy, uma boa ideia. Um tablet com alma de PC, apto, portanto, a eliminar uma das tralhas que viajam comigo. De modo que comprei um, não totalmente topo de linha, mas quase, acompanhado pelo novíssimo teclado iluminado. O conjunto custou quase mil dólares.

No hotel, abri o pacote e mergulhei na instalação da máquina. E lá, mexendo com o Surface fora de uma bancada, comecei a me dar conta das suas falhas. Pelo menos comigo, ele nunca poderia funcionar como notebook, porque quando escrevo em quartos de hotel gosto de me recostar na cama, com a máquina no colo — e ele requer uma superfície plana para ser notebook. Como tablet, por outro lado, é pesado demais para dar certo.

Mas como sou brasileira e não desisto nunca, ou quase nunca, passei as noites seguintes às voltas com a engenhoca. E aí fui me dando de um outro problema: Windows 8 e Windows Phone são animais parecidos, mas diferentes. Além disso, o que funciona numa tela de 5” não funciona, necessariamente, numa de 11”. Falta ao Windows 8 a consistência que sobra ao Windows Phone. Ele é um híbrido desagradável, que ora trabalha com telhas, ora com a interface clássica do Windows. Alternar a mente e os dedos entre uma coisa e outra é cansativo e enervante — mais ou menos como se, para ir da sala à cozinha, tivéssemos que entrar em outra dimensão.

No quarto — e penúltimo — dia da viagem, eu já estava convencida de que tinha feito o pior negócio da minha vida. Fui jantar com uma amiga e comentei, amargurada, o dinheiro posto fora.

— Ué, mas por que você não pede a grana de volta? Estamos nos Estados Unidos, lembre-se.

E assim foi. No dia seguinte, com poucas horas para fazer as malas e embarcar, corri na Best Buy com o Surface e os seus acessórios. Já não tinha a caixa, que havia jogado fora, mas tudo o que a atendente me perguntou foi se o produto havia quebrado ou se eu não havia gostado dele.

— “Não gostar” é pouco — respondi. — Eu detestei esse tablet! Odiei!

A moça pegou a tralha, sequer conferiu os itens e fez o retorno no meu cartão. Não levou cinco minutos. Fiquei tão emocionada que comprei um HD externo da cor do Macbook Air e, quando voltei para o hotel, dei um beijo de gratidão no meu notebook.

Sorry, Microsoft, mas ainda não foi dessa vez.

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