Marina, você faça tudo, mas faça o favor. Não mude o discurso da ética, que é só seu. Marina, você já é respeitada com o que Deus lhe deu. O povo se aborreceu, se zangou, e cansou de falar. Lula e Dilma estão de mal com você e não vão perdoar. Mas o eleitor não poderia arranjar outra igual para embaralhar o jogo sonolento da sucessão em 2014. Pelo menos num dos turnos, vamos discutir princípios e fins. E principalmente os meios.
A abertura desta coluna é um plágio. De mim mesma. Só o ano foi trocado no parágrafo: de 2010 para 2014. Assim abri, há quatro anos, um artigo em ÉPOCA. Parece atual.
Não interessa em quem o povo brasileiro - obrigado por uma lei antidemocrática a ir às urnas - votará para presidente. Se a ideologia influencia pouco a escolha e se ninguém mais sabe o que é esquerda e direita, porque todos comem caviar, viram censores e bebem uísque quando estão ricos, famosos e no poder, a guerra verdadeira envolve propaganda, benesses e mentiras cínicas. O voto é decidido por emprego e inflação, educação e saúde, mas também por simpatia, esmola, promessas e demagogia. O bolso e as bolsas fazem uma diferença absurda no Brasil profundo.
Por que falar bem de Marina? Não tenho religião, não simpatizo com os evangélicos e lamento a minha generalização - elas costumam ser injustas. O pastor deputado Marco Feliciano, agora ansioso para expulsar gays de cultos, porque só pensa naquilo, não ajuda os evangélicos a construir imagem de tolerância. Não significa que todos os evangélicos rezem pela mesma cartilha fanática.
É um erro definir alguém por sua crença ou ausência de fé.
Por que falar de Marina se ela não passa, no momento, de uma provável vice de Eduardo Campos, do PSB? Primeiro, por causa de sua biografia. Biografia virou, nessas últimas semanas, uma palavra incendiária por causa da Jovem Velha Guarda Tropicalista (JVGT), guardiã da privacidade de artistas que expõem sua vida pessoal na capa de revistas de celebridades. Sorrisos, filhos, casas, férias, tudo fotoshopado, autorizado, compartilhado.
No caso de Marina, a biografia conta muito, no mínimo para que seja respeitada como pessoa, no pântano de nossa politicagem. Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima nasceu no Acre, filha de seringueiros migrantes cearenses. Analfabeta até os 16 anos, aprendeu a ler enquanto trabalhava como empregada doméstica. Pelo Mobral, fez em quatro anos o primeiro e o segundo graus. Marina contraiu cinco malárias, duas hepatites. Formou-se em história. Queria ser freira. Virou marxista. Tem quatro filhos. Foi a mais jovem senadora do Brasil, aos 35 anos. Marina já enfrentou madeireiros, fazendeiros, cangaceiros. Lula a nomeou ministra do Meio Ambiente. Saiu derrotada e desgastada cinco anos depois, em briga com a mãe do PAC, a então ministra Dilma Rousseff.
Por que mesmo falar de Marina, se ela não tem nenhuma chance contra a outra mulher? Quando Marina se mandou para o PV, Dilma disse: "Estou triste. Preferia que ela continuasse no PT, porque é uma grande lutadora". Na queda de braço entre as duas, a corpulenta Dilma de vermelho ganha fácil da magra Marina de preto.
Em Dilma, as rugas quase sumiram, o cabelo ficou moderno e repicado, o sorriso substituiu a expressão severa, o dedo em riste foi trocado pelo coraçãozinho com as mãos. É a cirurgia da personalidade, o bisturi dos marqueteiros. Marina mantém o coque, as rugas e aquelas palavras intragáveis que ninguém entende. "Programática" é um adjetivo que ela deveria jogar no lixo sem reciclar - com o vocabulário pernóstico que a distancia do eleitor.
Marina é melhor quando esquece que precisa mostrar instrução e recorre a frases simples de efeito. Dilma a mandou "estudar" para ter propostas sobre o Brasil. Marina respondeu: "Ela (Dilma) deu um conselho de professora. (...) Aprender é sempre uma coisa muito boa. Difíceis são aqueles que acham que não têm mais o que aprender".
Por que falar de Marina, que nem conseguiu pendurar sua Rede no barco da sucessão? Porque a presença de Marina, junto aos olhos verdes de Eduardo Campos, é um fato novo, como há quatro anos. Move as camadas da terra, provoca tremores, obriga as velhas raposas a sair da toca.
E cômico ver Dilma discursando agora sobre a questão ambiental. Mandando beijos e acenos para pequenos agricultores, quilombolas, pescadores, jovens e indígenas, prometendo quintuplicar os produtores de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos. E defendendo assentamentos agrários. Seu mentor, Lula, encampa o outro lado: atrai os ruralistas, enxotados por Marina.
Por isso são importantes as biografias não autorizadas. Elas resgatam as contradições, as incoerências, as mentiras históricas, repetidas tantas vezes que acabam virando verdade. No fundo, só servem a um projeto de poder.
A abertura desta coluna é um plágio. De mim mesma. Só o ano foi trocado no parágrafo: de 2010 para 2014. Assim abri, há quatro anos, um artigo em ÉPOCA. Parece atual.
Não interessa em quem o povo brasileiro - obrigado por uma lei antidemocrática a ir às urnas - votará para presidente. Se a ideologia influencia pouco a escolha e se ninguém mais sabe o que é esquerda e direita, porque todos comem caviar, viram censores e bebem uísque quando estão ricos, famosos e no poder, a guerra verdadeira envolve propaganda, benesses e mentiras cínicas. O voto é decidido por emprego e inflação, educação e saúde, mas também por simpatia, esmola, promessas e demagogia. O bolso e as bolsas fazem uma diferença absurda no Brasil profundo.
Por que falar bem de Marina? Não tenho religião, não simpatizo com os evangélicos e lamento a minha generalização - elas costumam ser injustas. O pastor deputado Marco Feliciano, agora ansioso para expulsar gays de cultos, porque só pensa naquilo, não ajuda os evangélicos a construir imagem de tolerância. Não significa que todos os evangélicos rezem pela mesma cartilha fanática.
É um erro definir alguém por sua crença ou ausência de fé.
Por que falar de Marina se ela não passa, no momento, de uma provável vice de Eduardo Campos, do PSB? Primeiro, por causa de sua biografia. Biografia virou, nessas últimas semanas, uma palavra incendiária por causa da Jovem Velha Guarda Tropicalista (JVGT), guardiã da privacidade de artistas que expõem sua vida pessoal na capa de revistas de celebridades. Sorrisos, filhos, casas, férias, tudo fotoshopado, autorizado, compartilhado.
No caso de Marina, a biografia conta muito, no mínimo para que seja respeitada como pessoa, no pântano de nossa politicagem. Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima nasceu no Acre, filha de seringueiros migrantes cearenses. Analfabeta até os 16 anos, aprendeu a ler enquanto trabalhava como empregada doméstica. Pelo Mobral, fez em quatro anos o primeiro e o segundo graus. Marina contraiu cinco malárias, duas hepatites. Formou-se em história. Queria ser freira. Virou marxista. Tem quatro filhos. Foi a mais jovem senadora do Brasil, aos 35 anos. Marina já enfrentou madeireiros, fazendeiros, cangaceiros. Lula a nomeou ministra do Meio Ambiente. Saiu derrotada e desgastada cinco anos depois, em briga com a mãe do PAC, a então ministra Dilma Rousseff.
Por que mesmo falar de Marina, se ela não tem nenhuma chance contra a outra mulher? Quando Marina se mandou para o PV, Dilma disse: "Estou triste. Preferia que ela continuasse no PT, porque é uma grande lutadora". Na queda de braço entre as duas, a corpulenta Dilma de vermelho ganha fácil da magra Marina de preto.
Em Dilma, as rugas quase sumiram, o cabelo ficou moderno e repicado, o sorriso substituiu a expressão severa, o dedo em riste foi trocado pelo coraçãozinho com as mãos. É a cirurgia da personalidade, o bisturi dos marqueteiros. Marina mantém o coque, as rugas e aquelas palavras intragáveis que ninguém entende. "Programática" é um adjetivo que ela deveria jogar no lixo sem reciclar - com o vocabulário pernóstico que a distancia do eleitor.
Marina é melhor quando esquece que precisa mostrar instrução e recorre a frases simples de efeito. Dilma a mandou "estudar" para ter propostas sobre o Brasil. Marina respondeu: "Ela (Dilma) deu um conselho de professora. (...) Aprender é sempre uma coisa muito boa. Difíceis são aqueles que acham que não têm mais o que aprender".
Por que falar de Marina, que nem conseguiu pendurar sua Rede no barco da sucessão? Porque a presença de Marina, junto aos olhos verdes de Eduardo Campos, é um fato novo, como há quatro anos. Move as camadas da terra, provoca tremores, obriga as velhas raposas a sair da toca.
E cômico ver Dilma discursando agora sobre a questão ambiental. Mandando beijos e acenos para pequenos agricultores, quilombolas, pescadores, jovens e indígenas, prometendo quintuplicar os produtores de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos. E defendendo assentamentos agrários. Seu mentor, Lula, encampa o outro lado: atrai os ruralistas, enxotados por Marina.
Por isso são importantes as biografias não autorizadas. Elas resgatam as contradições, as incoerências, as mentiras históricas, repetidas tantas vezes que acabam virando verdade. No fundo, só servem a um projeto de poder.
Um comentário:
Já se foram rios de tinta e, o "Modus operandi" na política continua.
O que vocês acham de "abrir os olhos dos eleitores" com um pouco de cultura.
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