FOLHA DE SP - 11/05
BRASÍLIA - Ninguém deseja nem seria aceitável que a presidente da República mergulhasse no mais puro fisiologismo miúdo do Congresso para aprovar medidas relevantes para o país. Dilma Rousseff tem sido ambivalente a respeito.
Aos olhos do eleitor, a presidente demonstra não se interessar em chafurdar na micropolítica, a razão de viver da maioria dos congressistas. Dilma tampouco dá poderes para seus prepostos entrarem para valer nesse debate pouco edificante.
Por outro lado, a administração federal bateu o recorde histórico do número de ministros. Há agora 39 flanando pela Esplanada. Ao distribuir esses cargos com direito a carrões com placas de bronze e motoristas uniformizados, Dilma não faz nada além de fisiologia. Até porque, qual é a razão objetiva para o senador Marcelo Crivella, do PRB do Rio de Janeiro, ser ministro da Pesca? Ou para Moreira Franco, cardeal do PMDB, ser o ministro da Aviação Civil?
Há uma opção clara por uma engenhosa terceirização da fisiologia. A presidente mantém perante o eleitorado a imagem de durona e faxineira dos corruptos. Caberia aos ministros se ocuparem do trabalho sujo de obter as vitórias no Congresso.
A fórmula só tem funcionado pela metade. A imagem de Dilma segue sólida --com a inestimável ajuda de seu 40º ministro, este informal, o marqueteiro João Santana.
A outra parte do modelo fisiológico dilmista é um fracasso absoluto. Poucas reformas estruturais foram ou serão aprovadas no país. Já estão perto da extrema-unção as mudanças no ICMS e a medida provisória que moderniza os portos.
E qual o problema? Para Dilma, nenhum. É improvável que sua imagem seja abalada de maneira avassaladora porque caminhões fazem fila no porto de Santos. Já para o Brasil, será mais uma oportunidade perdida --apesar da popularidade presidencial, a estrutura legal e operacional do país sairá pouco do lugar.
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