O GLOBO - 11/05
O brasileiro Roberto Azevêdo tem uma lista difícil do que fazer agora para ter êxito. Ele trabalhará como profissional da diplomacia comercial, mas seu sucesso ou fracasso influenciará também as ambições do Brasil em ter um papel mais decisivo na governança global. Dado o adiantado da hora na crise do comércio do mundo, nos próximos quatro anos ele andará no fio da navalha.
O primeiro dilema será em Bali. Ele mesmo definiu, em sua primeira entrevista, que a Organização Mundial do Comércio está num momento crítico e que, se não superar suas dificuldades, vai cair na irrelevância. Nessa reunião ele terá que decidir se vai trabalhar com o que está na mesa, os restos da empacada Rodada Doha, ou se tentará outro caminho.
Há especialistas dizendo que Doha morreu e que é melhor enterrá-la e iniciar um novo ciclo, até porque, desde que ela começou, muita coisa mudou no comércio mundial, como o novo patamar do comércio da China. Mas o que Azevêdo disse até agora é que pretende trabalhar sobre o que herdou dos trabalhos do atual diretor geral, Pascal Lamy.
Seja qual for o caminho, é preciso fortalecer o sistema multilateral. Só a OMC é herdeira do arcabouço que vem sendo lentamente montado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, no Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que em três grandes rodadas conseguiu vitórias expressivas na integração dos países. Só a OMC tem um sistema de solução de controvérsias e de sanções que se aplica no mundo inteiro.
O comércio mundial sentiu violentamente a crise e os anos dourados ficaram para trás, como mostra gráfico com o índice World Trade Monitor, um indicador elaborado pelo escritório holandês de pesquisa CPB. Num ritmo em 12 meses, as exportações no mundo cresceram entre 5% e 9% de 2003 a 2008. Depois, encolheu 14%, na crise, mas voltou a se recuperar. Nos últimos 12 meses, tem crescido em um ritmo de 2%.
A crise provocou uma onda de protecionismo. O Brasil não fugiu disso, pelo contrário, elevou tarifas e criou barreiras. A proteção não incentivou a indústria, e o comércio brasileiro está com vários sinais de deterioração. As exportações caíram e o déficit aumentou, provando mais uma vez que não é esse o caminho para proteger a economia local.
Azevêdo terá que saber por onde começar a puxar o fio para desfazer os nós que prendem o comércio internacional: a rodada de liberalização empacou; grandes blocos iniciam negociações, como EUA e Europa; o comércio está sendo travado por uma onda protecionista.
O Brasil está ele próprio num beco sem saída no Mercosul. Só pode avançar em qualquer negociação com o acordo dos sócios. O problema é que a Argentina está em marcha batida para uma crise cambial que a fará aumentar ainda mais o fechamento da sua economia. Ela vive situações que eram corriqueiras nas crises dos anos 80 - como a disparada do dólar paralelo e a existência de um xerife de preços (no caso, o ministro Guillermo Moreno) - mas que hoje parecem bizarras. O Brasil tem que sair do atoleiro e não o fará colado na Argentina ou na errática Venezuela.
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