Barça nadaria de braçada por aqui
WAGNER VILARON
O Estado de S.Paulo - 01/09/11
É inevitável. Sempre quando um grande clube europeu passa por ótimo momento, deparamo-nos com aquela velha e utópica questão: e se viesse disputar o Campeonato Brasileiro, como seria? A bola da vez, claro, é o Barcelona, equipe que atualmente desperta apenas três sentimentos: euforia (de seus torcedores), admiração (daqueles que gostam de futebol) e inveja (dos pobres rivais).
Vanderlei Luxemburgo, em quem votei como melhor treinador do primeiro turno do Brasileiro na eleição realizada aqui no Estado, afirmou durante participação no programa Bem Amigos!, do SporTV, que Messi e cia. teriam dificuldades para jogar no Brasil.
O técnico do Flamengo argumentou que o Barça deita e rola no Campeonato Espanhol porque se trata de competição sem maiores atrativos técnicos, que conta com apenas dois grandes clubes: o próprio Barcelona e o eterno rival Real Madrid. No mais seriam apenas equipes medianas.
Exceção feita à ideia de que times como Sevilla, Villarreal ou La Coruña seriam medianos (pois são mesmo, embora nosso complexo de vira-lata ainda nos faça ficar encantados com quase tudo que vem de fora), discordo de Luxemburgo.
A sensação que tenho é de que as pessoas confundem equilíbrio com qualidade. Sem dúvida o Brasileiro é um dos campeonatos mais equilibrados do mundo (provavelmente o líder neste quesito). Afinal, ainda não fui apresentado a uma competição nacional, realizada em médio ou grande centro do futebol, na qual pelo menos oito clubes entrassem como candidatos reais ao título. Ou que contasse com tantos campeões nacionais entre seus participantes. Só nesta temporada são 15.
Não entendo, porém, que tanto equilíbrio se traduza, necessariamente, em qualidade tática ou técnica. Claro que já tivemos grandes jogos nesta edição 2011, como o inesquecível Santos 4 x 5 Flamengo. No entanto, de modo geral, o futebol brasileiro passa por momento fraco tecnicamente.
E não faltam argumentos para justificar tal afirmação. A começar pela carência de bons jogadores em tantas posições. Não há treinador hoje no País que não lamente a estiagem de laterais, meias e atacantes. Sem desmerecer o esforço e o talento de um craque, o bom momento de Ronaldinho Gaúcho deve-se também ao mediano nível técnico da competição.
Uma breve análise da campanha dos grandes clubes no primeiro turno mostra que, em comum, a maioria deles tem a oscilação como marca. O Corinthians viu seu desempenho cair vertiginosamente nas últimas nove rodadas. No entanto, graças aos tropeços de seus rivais, conseguiu se manter lá em cima. Isso sem falar no rendimento da seleção brasileira, que sob a batuta de Mano Menezes briga contra o descrédito da opinião pública.
Portanto, o Barcelona só não nadaria de braçada no Brasileiro se o "Sobrenatural de Almeida" (com a licença do mestre Nelson Rodrigues) entrasse em campo.
A principal argumentação de defesa utilizada pelo técnico Tite diante da forte pressão que recebeu nos últimos dias foi lembrar que o Corinthians terminou o primeiro turno do Campeonato Brasileiro na liderança. Pergunto: e daí? Trata-se de uma visão simplória da situação, pois o que está no centro da discussão não é a atual posição da equipe na classificação, mas sim o rendimento declinante e, claro, preocupante nas últimas nove rodadas.
Dentro deste contexto, a liderança funciona mais para encobrir problemas internos do que como prova de que tudo está bem. Sim, está evidente que existem assuntos mal resolvidos no Parque São Jorge.
Portanto, tão equivocado quanto dizer que não se deve questionar o trabalho do treinador que comanda o líder da competição é achar que sua demissão seria a solução de todos os problemas. O que falta ao futebol brasileiro é alguém suficientemente ousado para resistir ao clichê de mandar o técnico embora e corajoso para enquadrar os atletas.
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