Próxima estação, a Síria?
CLOVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 01/09/11
O Irã, único apoio a Bashar Assad no mundo islâmico, estaria iniciando diálogo com a oposição síria
Se verdadeira a informação do jornal francês "Le Figaro", o regime de Bashar Assad, na Síria, pode estar em contagem regressiva. Segundo o jornal, funcionários iranianos encontraram-se com representantes da oposição síria em uma capital europeia. Queriam saber o que o Ocidente também gostaria muito de ter claro: conhecer os líderes de uma oposição que esteve condenada à clandestinidade durante 40 anos de ditadura; determinar qual o peso dos islamitas no conglomerado oposicionista; e se um acordo com o regime ainda é possível.
Um quarto ponto, de interesse específico do Irã, também teria sido tratado: como a oposição, uma vez instalada no poder, se relacionaria com o Hizbollah, o partido-milícia xiita do Líbano. "A Síria é o país que permite ao Irã suprir a sua joia da coroa no Oriente Médio, o Hizbollah", comenta Karim Sadjadpour, especialista do Carnegie Endowment for International Peace.
A importância do Irã na crise síria se dá por ser a rigor o único país do mundo muçulmano que ainda apoia o regime, com o qual de resto tem vínculos históricos.
É pela Síria que passam as armas que o Irã fornece ao Hizbollah ("Partido de Deus"), uma das pontas-de-lança do combate iraniano a Israel. A outra ponta é o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla a faixa de Gaza. Se o Irã de fato busca uma aproximação com a oposição síria, o isolamento de Assad seria tão formidável que, para manter-se no poder, precisaria dobrar a aposta na violência, já insuportável.
O "Figaro" informa ainda que também o Hizbollah fez contatos com a oposição síria, que, sempre de acordo com o matutino francês, estaria disposta, uma vez no poder, a reequilibrar as relações com Teerã, hoje de intimidade absoluta, mas sem adotar posições anti-iranianas.
Se for de fato assim, o Irã acaba se beneficiando da chamada "Primavera Árabe": não perderia a "nova" Síria e já ganhou um Egito menos refratário ao regime dos aiatolás. Hosni Mubarak, o deposto ditador egípcio, era um dos principais, talvez o principal baluarte da resistência a Teerã.
Seus sucessores até já permitiram a passagem de navios iranianos pelo Canal de Suez, o que não acontecia há cerca de 40 anos. Mas, atenção, não quer dizer que o Irã ganha com as revoltas no mundo muçulmano. Simplesmente deixa de perder, como parecia inevitável no início da turbulência, quando se acreditava que seriam varridos os governos autoritários.
Não está sendo assim, mas é prudente não avançar prognósticos porque as rebeliões estão desafiando todos eles. No caso da Líbia, por exemplo, pensou-se que Gaddafi cairia, como Mubarak, poucos dias após iniciado o levante.
Depois, passou-se a especular com o contrário, ou seja, que a repressão por ele promovida criaria um impasse de longa duração, que Trípoli era inexpugnável e que Assad teria longa vida por seguir a tônica repressiva adotada na Líbia.
Agora, Tripoli caiu e até o Irã, cujas práticas violentas são conhecidas, começa a desconfiar de que nem a repressão basta para segurar o ditador sírio.
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