BCedeu
VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 01/09/11
BRASÍLIA - Por mais que o Banco Central busque justificar tecnicamente sua decisão de ontem, de pouco adiantará. Ficará a imagem de que cedeu às pressões políticas do Palácio do Planalto.
Nada indicava, pelo menos de acordo com os dados divulgados recentemente, que era possível reduzir os juros neste momento.
A inflação deu um repique e seu caminho para o centro da meta, de 4,5%, vai demorar mais tempo do que o previsto inicialmente.
Mesmo assim o BC decidiu iniciar, desde já, o corte na taxa de juros. Com esse movimento, passa a mensagem de que não está focado totalmente na sua tarefa principal de garantir o cumprimento da meta de inflação.
Nos últimos dias, mesmo fazendo as ressalvas protocolares de que o BC era livre para tomar sua decisão, o Planalto e o Ministério da Fazenda desencadearam uma forte onda de pressão sobre o Copom na defesa da queda dos juros.
Nos tempos de Lula, movimento semelhante havia acontecido, mas o BC buscava resistir às pressões vindas, na época, principalmente do PT. Foi acusado de errar e, em algumas oportunidades, realmente cometeu seus equívocos, mas manteve sua credibilidade.
Credibilidade que, num sistema de metas de inflação, é a base do modelo. Sem ela, os agentes econômicos não confiam na capacidade do Banco Central de agir livremente para perseguir seu objetivo. Sua tarefa fica comprometida.
O BC de Dilma terá de explicar seu movimento na ata do Copom que será divulgada na próxima semana. A não ser que demonstre ter dados seguros de que a economia está numa queda livre, dificilmente conseguirá convencer que sua decisão foi técnica, e não política.
O fato é que a queda dos juros mostra que o governo não medirá esforços para garantir um crescimento na casa dos 4%. Mesmo que isso coloque em risco a credibilidade de uma de suas principais instituições. A conferir.
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