Alguns meses atrás, as atividades vinculadas à cana-de-açúcar eram tidas como as mais atraentes da economia nacional. Hoje, atravessam grave crise, especialmente as unidades que se dedicam à produção de álcool. Alguns projetos em fase de implantação foram suspensos, muitas empresas estão inadimplentes e poderão pedir concordata e a cana-de-açúcar plantada em grandes áreas pode não ser colhida.
O setor sucroalcooleiro não foi vítima direta da crise financeira internacional. Dela não sofreu mais que efeitos marginais. Essa crise tem origem no excessivo otimismo com que os produtores de etanol encararam suas possibilidades de exportação, incentivados pelo presidente Lula, certo de que convenceria os países ricos a importar um combustível que reduz a poluição e permite substituir em parte o petróleo - cujo preço, no início de 2008 apresentava uma curva de alta que parecia projetar-se por vários anos à frente.
Tanto a campanha pró etanol brasileiro não teve o êxito almejado quanto o preço do petróleo entrou em declínio.
O malogro deveu-se essencialmente à incapacidade do governo brasileiro de convencer os governos estrangeiros de que a produção da cana-de-açúcar não ocupava área suscetível de reduzir a oferta de alimentos, num momento em que, em razão da queda da produção alimentícia, o mundo se deparava com escassez de gêneros. Para a opinião pública externa, a área ocupada pela cana no Brasil poderia ter sido usada para aumentar a oferta de outros produtos. Além disso, era difícil que alguns movimentos de ecologistas esquecessem das disputas, no País, em torno dos malefícios da monocultura em certas regiões. O Brasil deveria ter-se preparado também para as críticas no exterior de que o corte da cana é obra de trabalho escravo, enquanto, na verdade, parte importante da colheita é feita por máquinas.
Teria sido necessário que, antes mesmo de querer exportar grande quantidade de etanol, o Brasil fizesse investimentos no exterior para promover os motores flex ou para exportar automóveis desse tipo e assim comprovar as vantagens desse combustível.
Os investidores certamente foram seduzidos pelos resultados potenciais. O preço médio do etanol em 2006 era de US$ 469,69 por m³, mas caiu para US$ 418,58 em 2007. Essa variação deveria ter sido observada pelos produtores que, no entanto, preferiram olhar os dados das exportações em 2008, que alcançaram US$ 2,227 bilhões nos 11 primeiros meses do ano ante apenas US$ 1,380 bilhão no mesmo período de 2007. O que não previram foi a rapidez da queda dos preços do petróleo, fator decisivo, pois o etanol só pode ser competitivo se o petróleo custar mais do que US$ 35 o barril, e que os usuários desse combustível precisam de uma faixa de segurança maior. Por outro lado, é preciso levar em conta também a evolução das exportações de açúcar, cuja produção é ligada à de álcool e que estão sofrendo também queda de preços.
A crise do setor pode ter efeitos sociais graves além do desperdício de investimentos que, em muitos casos, foram financiados com recursos externos e que, com a desvalorização do real, podem ter dificuldades de reembolso.
O problema maior, no entanto, será de caráter social. Os cortadores de cana-de-açúcar já sofrem atrasos no pagamento de salários e enfrentam a perspectiva de falta de trabalho na safra 2008/09, uma vez que os grupos produtores poderão, segundo o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues, passar dos 200 atuais para 50 nos próximos cinco anos.
O governo não conseguiu, como esperava, transformar o etanol em commodity cotada no mercado internacional, como o petróleo. No entanto, não pode permanecer apenas como simples espectador da crise atual.
Se realmente acredita que o etanol tem futuro no mercado internacional, e que o preço do petróleo voltará a subir, sem, porém, alcançar o nível absurdo do início de 2008, deve constituir estoques de etanol e melhorar o marketing do produto. A compra de uma refinaria no Japão representa um passo positivo nessa direção. |
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