FOLHA DE SP - 22/12
Dados sobre contratações e demissões evidenciam limites do modelo de crescimento baseado em mais consumo e emprego
As informações mais recentes sobre o mercado de trabalho brasileiro prestam-se a comentários tanto exultantes como pessimistas, a depender sobretudo da orientação político-partidária do observador.
Anteontem foram divulgadas as estatísticas referentes a contratações e demissões de trabalhadores formalmente registrados.
No balanço do ano, até novembro, o saldo de novos empregos (diferença entre admitidos e desligados) é o menor desde 2003, quando a economia ainda estava muito abalada pelo final conturbado da Presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e pelos efeitos da desconfiança no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No entanto, o número de novos postos de trabalho adicionados neste ano, até novembro, não é nada desprezível: pouco mais de 1,5 milhão de empregos.
Os dados da pesquisa mensal do IBGE a respeito da situação do emprego em seis grandes regiões metropolitanas podem suscitar observações semelhantes.
O desemprego é o menor da série iniciada em 2002, a partir de quando se podem fazer comparações: 4,6%. Não é improvável que se trate de uma das menores taxas em três décadas. Além do mais, a renda média dos trabalhadores aumenta acima da inflação.
Trata-se de bom resultado, ainda mais quando se leva em conta o fato de que o país completa o terceiro ano de crescimento pífio, com a perspectiva de pelo menos mais um ano de desempenho sofrível.
Há que qualificar tal balanço, porém. A taxa de desemprego quantifica a proporção de pessoas que não encontram trabalho em relação ao total daquelas que estão no mercado. Quem se retira da praça não é contabilizado. O desemprego não tem aumentado porque o número de pessoas à procura de emprego caiu, assim como o total de pessoas ocupadas.
O ritmo de crescimento da renda do trabalho, ademais, é um dos menores da década, comparável ao dos meses fracos que se seguiram à crise de 2008-2009.
Em suma, o mercado de trabalho de certo modo arrefeceu, embora tal situação não provoque aumento do desconforto social. Ficam evidentes limitações da economia brasileira. Não há muito mais trabalhadores a incorporar. Pressões de custo e perspectivas medíocres limitam a criação de empregos e os reajustes salariais adicionais.
Está claro que se chega ao final de um ciclo, em parte esgotado por insuficiência de investimentos e pela carência de mudanças institucionais que incentivem o aumento da produtividade. O país não tem muito mais como crescer com base em aumento de consumo e da força de trabalho.
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