FOLHA DE SP - 01/01/14
SÃO PAULO - Analisando friamente, eu me classifico como um otimista incorrigível. Sou daqueles que acham que, do Pleistoceno para cá, a vida das pessoas melhorou quase infinitamente. Mesmo no horizonte mais curto dos milênios e séculos, penso que o progresso tem sido notável. Descobrimos uma série de coisas úteis, como agricultura, especialização do trabalho, dinheiro, uso de fontes de energia, antibióticos, vacinas, que nos fizeram viver mais e com maior opulência.
Assim, não creio que seja por flertar de forma contumaz com o pessimismo que digo que o Brasil está perdendo mais um bonde da história. Essa minha constatação, infelizmente, tem amparo na realidade.
Sob o governo de Dilma Rousseff, o PIB brasileiro vem crescendo por volta de 2% ao ano em média. É bem menos que os 4,05% de Lula e não supera os 2,31% de FHC (que o PT sempre pintou como medíocres). As cifras de Dilma, portanto, embora longe de brilhantes, não chegam a ser desesperadoras --ao menos não quando analisadas isoladamente.
O problema é que o Brasil está desperdiçando seu bônus demográfico, o período em que o contingente de pessoas em idade de trabalhar é maior que as coortes de dependentes (jovens e idosos). É nessa fase que países reúnem as condições mais propícias ao crescimento.
Nosso bônus demográfico teve início nos anos 70 e estamos chegando perto de seu apogeu. A situação deve permanecer favorável mais ou menos até 2030 e, a partir de 2043, a população começará a declinar.
Se não aproveitarmos a janela auspiciosa dos próximos anos para tornar o Brasil um país relativamente rico, será bem mais difícil fazê-lo depois, quando a população de idosos estará crescendo rapidamente, o que implicará mais gastos com aposentadorias e o sistema de saúde. E os 2% anuais de crescimento entregues até aqui ficam muito aquém de colocar o Brasil numa posição confortável.
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