FOLHA DE SP - 07/02
"Os desvios da prefeitura de S. André iam para o PT, o próprio Gilberto Carvalho me disse", afirma Tuma Jr.
Ah, esses homens públicos maravilhosos e suas ações desinteressadas, que nunca ocorrem em benefício próprio!
O Roberto Jefferson da vez chama-se Romeu Tuma Jr., autor do bestseller "Assassinato de Reputações", 70 mil cópias vendidas, nenhuma surpresa aí, uma vez que o prato servido satisfaz o apetite de uma imensidão de curiosos.
Assim como Roberto Jefferson, Tuma Jr. alega ser movido por civismo e nobreza de espírito.
Não duvido. Mas que mal há em aproveitar a onda e os 70 mil interessados no que ele tem a dizer e se eleger a um cargo público nas próximas eleições, não é mesmo?
A expressão de ressentimento, até de fúria em certos momentos, que podiam ser percebidos em seu rosto no "Roda Viva" da última segunda-feira, a mim não enganaram.
Me disseram que ele ainda nutre algum ressentimento por ter sido afastado das investigações do caso Daniel Dantas sob alegação de que mantinha contato com um criminoso chinês.
E que nunca engoliu o ódio a Lula, a quem culpa por apressar indiretamente a morte do pai, o senador Romeu Tuma, que já estava doente quando o filho foi formalmente acusado de ter vínculos com o mafioso.
O delegado foi absolvido e livrado de qualquer constrangimento, mas seu pai acabou morrendo depois de uma internação longa e dolorosa.
E agora temos o livro. Mais uma vez, sem que as consequências de acusações gravíssimas sejam mensuradas ou corroboradas por provas minimamente detalhadas. O que existe é a prova testemunhal e nenhum desmentido até agora.
É válido tentar varrer do mapa o único partido constituído da democracia tapuia por ter ele imitado o "padrão Fifa" (literalmente) de outros partidos. Mas valeria lembrar que não foram só Silvinhos Pereiras que fundaram o PT, há gente séria e pensante, discorde-se dela ou não, que ajudou a construí-lo. Parece às vezes que esquecemos que é um patrimônio de todos.
Quem será que o senhor Tuma Jr., cego de rancor, gostaria de ver tomar o lugar do PT quando ele e os Jeffersons da vida tiverem terminado de afundar o barco? A turma do Feliciano? Do Crivela?
Bem, vamos ao livro de Tuma Jr., um rapaz que insiste que o pai "redemocratizou o Dops", isto, note, em plena ditadura (é para rir?). Diz ele que Lula era informante do Dops. Até agora, não o vi revelar qualquer informação prestada por Lula ou dar o nome de alguém a quem ele tenha entregado. É para quando, Júnior?
O caso Celso Daniel ocorre em 2002 e Tuma Jr. diz que seu desfecho não ficou claro porque Lula foi eleito. Ué? Mas se o processo correu em uma vara paulista, como a PF de Lula poderia interferir? E o DHPP (departamento de homicídios)? E o Ministério Público de SP? Se havia tanta sujeira, por que ele aceitou integrar o governo Lula em 2007?
Tuma Jr. promete novo livro com provas. Acho bom, já que no "Roda Viva" deu uma de Maluf (lembra do Maluf sacodindo recorte de jornal em debate?) e sacou uma papelada para provar que Daniel Dantas deu R$ 1,5 milhão para a campanha Dilma. Sei. Até parece que todos eles não doam uma soma para cada candidato sistematicamente. Em vez de sacodir, porque não pôs no livro?
E, mais adiante, na página 263: "Os desvios da prefeitura de Santo André eram canalizados para o partido, o próprio Gilberto Carvalho me disse isso". Ora. Carvalho é conhecido pelo comedimento. Imagine se ia abrir o bico justamente para o filho do Tuma? Do Tuma, gente! Sendo que, pelo próprio ato da concepção do livro já dá para ver que o camarada é uma matraca.
Deixa ver se entendo: o PT tentava incriminá-lo por envolvimento com a máfia chinesa e o braço direito do Lula resolve se abrir com ele sobre o caso Celso Daniel? Só falta dizer que viu o Fidel Castro beijando o Paulinho da Força à força.
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