FOLHA DE SP - 07/02
Depois do fenômeno dos grupos black bloc, milícias de jovens de classe média estariam surgindo como nova ameaça social
Não são apenas os "rolezinhos", os diversos atos de protesto ou as tantas outras manifestações coletivas surgidas em tempos mais recentes que encontram nas redes sociais uma espécie de catalisador.
Ao lado dos atos de vandalismo que alguns desses movimentos terminaram por propiciar, vai se registrando outro fenômeno preocupante. Pela internet, um grupo de jovens cariocas propaga seu intuito de reagir aos constantes assaltos no aterro do Flamengo, área do Rio que costumam frequentar.
Segundo se noticia, não ficaram no plano das intenções, tendo passado a agir com as próprias mãos. Seus atos, além de ameaças e agressões, incluem a hostilização explícita de "mendigos e pobres".
Na semana passada, Yvonne Bezerra de Mello --fundadora do Projeto Uerê, voltado à educação de crianças e jovens carentes-- deparou-se com uma cena bárbara em uma movimentada avenida da zona sul do Rio de Janeiro. Um garoto negro de 15 anos, nu e com ferimentos por todo o corpo, estava agrilhoado a um poste pelo pescoço.
Mello, que socorreu e fotografou o adolescente, afirma estar sofrendo ameaças de morte, além de ataques verbais pela internet.
Outro morador do bairro, que não quis se identificar, diz ter visto o que qualificou de "arrastão homofóbico": 20 homens, com porretes, marchavam aos gritos, declarando-se dispostos a limpar a região de "gays, drogados e ladrões".
A novidade do caso está em sua capacidade de conjugar tantas das correntes sociais que ameaçam erodir o solo, já por si mesmo acidentado, do cotidiano brasileiro.
De um lado, as clássicas deficiências do policiamento preventivo nas grandes cidades se somam à degradação do espaço urbano, levando setores da classe média a se sentirem sitiados. De outro, cresce o preconceito contra o pobre, o negro, o diferente.
Nas comunidades carentes, formam-se milícias contra traficantes. Nos círculos abastados, o fenômeno da auto-organização por redes sociais ganha uma versão sinistra.
O vandalismo de esquerda dos "black blocs" estaria conhecendo a contraparte fascista dos patrulheiros do Flamengo. Sintoma, entre outros que se acumulam, de uma inquietação, de uma descrença e de um impulso destrutivo a que o poder público não sabe responder.
Qualquer que seja sua origem ideológica, comportamentos abusivos precisam ser reprimidos. É característica das sociedades modernas que o Estado detenha o monopólio da violência. No caso brasileiro, é crucial que esse poder seja usado com mais eficiência.
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