Depois do penteado que os irmãos Coen lhe arrumaram para o filme Onde os Fracos não Têm Vez era difícil imaginar coisa pior na cabeça do Javier Bardem. Mas em Skyfall, o último 007, ele usa uma cabeleira loira que escorre pela nuca e supera a anterior. Bardem ganhou um Oscar com a cabeleira dos irmãos Coen, é bem provável que ganhe outro com esta. Porque desde que entra em cena ele toma conta do filme. É certamente o melhor da longa lista de vilões excêntricos e megalomaníacos da série, o primeiro de sexualidade indefinida e o primeiro, desde que a Judi Dench começou a ser “M”, chefe do serviço secreto inglês, a tornar explícita a relação edipiana dos agentes com ela. Bardem é um ex-agente desgarrado que quer se vingar por ter sido abandonado por “M” e ao mesmo tempo destruir o serviço secreto. Bond é o filho favorito que perdoa “M” por quase tê-lo matado e a defende da vingança do outro. No fundo uma reedição da parábola do filho preferido e do filho réprobo, antiga como o mundo.
Espero não estar estragando o filme para quem ainda não viu, mas Judi Dench deve ter dado um ultimato aos produtores: só faria mais este no papel de “M”, mas sairia de cena em grande estilo. Em nenhum outro filme da série, mesmo quando “M” ainda era homem, o personagem teve tanto destaque e foi tão decisivo na trama. A sequência final de Skyfall, mais inverossímil do que qualquer outra num filme cheio de desafios às leis da probabilidade e da gravidade, é, no entanto, um desenlace perfeito para o drama edipiano. Bardem e Dench abraçados, têmpora contra têmpora, ele propondo que os dois se matem com a mesma bala, é uma cena sem precedentes na história da série – mesmo levando-se em conta que desde que Daniel Craig assumiu o papel principal as histórias têm ficado mais densas. Sam Mendes não deve ter hesitado em dirigir Skyfall depois de ler o roteiro, o filme não fará nenhum mal ao seu currículo.
No fim de Skyfall um homem volta a dirigir o serviço secreto inglês, inclusive com uma secretária chamada Moneypenny, como no começo da série. É uma espécie de restauração. A era da Judi Dench como “M” foi divertida, mas quem sabe para que atoleiros psicológicos nos levariam as implicações da relação de Bond com sua chefe, agora que se sabe que “M” era de “mãe”?
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