O Estado de S.Paulo - 19/12
A coluna de hoje começa com um assunto e termina com outro.
O primeiro está sintetizado no título acima. Tanto foi bom e moralizador manter em 1º de janeiro a data-base para a entrada em vigor das novas exigências de segurança nos veículos de fabricação nacional quanto foi vexatória e desmoralizadora a proposta de criar um tapetão especial para abrir uma exceção para a cinquentona Kombi (após o fechamento da coluna, o Contran anunciou recusa do pedido).
Não há justificativa séria para isso. A Volkswagen já havia anunciado oficialmente a "descontinuação" da produção do modelo para a qual teve cinco anos para se preparar.
Estudo do Centro de Experimentação e Segurança Viária concluiu que ao menos 500 mortes e 10,1 mil ferimentos seriam evitados por ano se todos os veículos brasileiros possuíssem airbag.
Empurrar mais prazo para tirar a Kombi das linhas de montagem, em nome de preservação provisória de empregos ou de contenção da inflação, é o mesmo que permitir a comercialização de remédios com prazo vencido.
É também incompreensível que a Volkswagen mantenha as vendas de um produto condenado por razões de segurança. Na Alemanha, país-sede da Volks, um despropósito dessas proporções não seria tolerado.
Afora isso, parece óbvio que, além do risco para sua própria segurança, os eventuais novos compradores dessas Kombis "Jesus-está-chamando" enfrentarão queda mais rápida do valor de revenda de seus veículos. O argumento de que é preciso favorecer o comprador de menor poder aquisitivo também não cola. Que banco se disporá a financiar a compra de um produto sujeito a forte deterioração da garantia? Enfim, essa é também uma questão de marketing e a Volks deve ter noção disso.
O outro tema desta coluna é o crescimento rápido do rombo nas contas externas, os números que compõem receitas e despesas do País com comércio exterior de mercadorias e serviços, mais transferências unilaterais de recursos. O ano passado terminou com um déficit externo de US$ 54,2 bilhões, ou 2,4% do PIB. Neste ano, saltará para algo em torno dos US$ 78 bilhões, 3,5% do PIB, nada menos que 44,0% maior do que o do ano anterior (veja, ainda, o gráfico).
Por enquanto, esse déficit está sendo em boa parte coberto com Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) - veja o Confira. O governo vê os US$ 63 bilhões que estão entrando neste ano como prova de confiança na política econômica do Brasil. Mas a maior parte desses recursos ou é de empréstimos entre matrizes estrangeiras e filiais ou pagamento de bônus de assinatura de leilões de concessão, como foi, em novembro, o caso das reservas de Libra.
O alargamento do déficit em conta corrente reflete consumo além da capacidade das pernas do brasileiro. São cada vez mais importações de bens e serviços, destinados a suprir a insuficiência da oferta da produção interna. Esse forte consumo, por sua vez, tem a ver com a disparada das despesas públicas do governo federal, que estão crescendo ao ritmo de 14% ao ano.
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