segunda-feira, dezembro 19, 2011

Propaganda falsa - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 19/12/11
RIO DE JANEIRO - Epa! Há dias, o governo da Holanda passou uma lei proibindo a venda de maconha nos cafés de Amsterdã e de outras cidades a quem for de fora do país. Ficam autorizados a servir-se do produto apenas os residentes nacionais ou estrangeiros, e que apresentem no coffee shop um "cartão da maconha" no ato da compra -cartão a ser fornecido pelo governo, através dos canais mais caretas e burocráticos.

A lei começa a valer em 1º de janeiro, mas haverá uma tolerância até 1º de maio, para que os comerciantes dos 670 cafés legalmente registrados se adaptem à nova realidade. É um duro golpe no "turismo da droga", que atrai milhões de visitantes a Amsterdã e traduz um fascinante liberalismo que eles, por acharem que lá deu certo, gostariam de ver aplicado em seus países.

Os turistas podem adorar esse liberalismo; os nativos nem tanto. Para eles, o turismo da droga é sinônimo de engarrafamento, poluição, lixo, barulho a noite toda e aumento da criminalidade, além do fumacê e do cheiro. E, diferentemente do que se acredita fora de lá, o fato de a erva ser vendida e usada livremente nos cafés não acabou com os traficantes.

Donde não quer dizer que, a partir de agora, turistas não autorizados a queimar fumo terão de se contentar em passear pelos canais de Amsterdã ou ir a museus admirar Vermeer. A lei só enquadrou os cafés. Quem quiser comprar maconha poderá continuar a fazê-lo, apelando para os traficantes nas ruas -os quais, com todo o liberalismo dos últimos 30 anos, não deixaram de existir e de fazer seus negócios nem por um dia.
Detalhe: só maiores de 18 anos terão direito ao cartão. E nenhum café autorizado a vender maconha poderá ficar a menos de 350 metros de uma escola -para manter a droga longe das crianças. Pelo visto, ao contrário do que insistem em nos fazer acreditar, a Holanda não gosta muito da maconha.

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