CORREIO BRAZILIENSE - 04/12
Em 2009, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, começou a se transformar em candidata ao Planalto acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em quase todas as viagens pelo Brasil. Dia sim, outro também, lá estava Dilma ao lado de Lula, lançando uma pedra fundamental, inaugurando um trecho de rodovia ou um projeto de irrigação. Qualquer ato que pudesse reunir meia dúzia de pessoas, lá estavam eles, sem que Lula deixasse de mencionar, é claro, as maravilhas da gestão da “companheira Dilma”, que cobrava dos demais ministros e fazia com que os projetos andassem no governo dele. Ao longo de todo aquele ano, que teoricamente foi de calmaria antes da eleição de 2010, as viagens foram rotina.
E 2013 guardará algumas semelhanças com aquele há quatro anos. Não que Lula saia por aí apresentando Dilma aos eleitores como “a solução”. Hoje, a presidente dispensa apresentações sobre seu estilo, conduta ou mesmo jeito de governar. O eleitor sabe de quem se trata. Falta mostrar ao eleitor que as coisas estão andando normalmente, de forma a tentar evitar que ganhe fôlego o discurso do PSDB e do DEM sobre a paralisia nas obras públicas e nos principais projetos governamentais.
Nesse sentido, que ninguém estranhe o aumento do número de viagens da presidente pelo Brasil. A chefe da nação, que, no papel de presidente da República, não é de ficar pendurada em avião para lá e para cá, vai mudar esse sistema. Em vez de passar a semana praticamente fechada no Planalto cobrando projetos e passando pito em ministros e assessores que não cumprem os prazos, ela percorrerá o país.
A ideia é mostrar movimento, agilidade, o governo acontecendo nos recantos do Brasil. Assim, por mais que se diga que está tudo parado, que a obra A não sai do papel, sempre haverá alguém para argumentar contra essa afirmativa, porque viu a presidente inaugurando um empreendimento em algum lugar. Os primeiros ensaios nesse sentido já começaram. Ontem, por exemplo, Dilma estava no Maranhão, ao lado da governadora Roseana Sarney e do presidente do Senado, José Sarney, ambos do PMDB, inaugurando as obras de alargamento do Cais Sul do Porto de Itaqui, investimentos de R$ 152 milhões. Não é nada, já é alguma coisa e cria um barulho entre os maranhenses. Gera notícia local e para os municípios da região, ou seja, denota governos em movimento, tanto o de Dilma quanto o de Roseana.
Para o ano que vem, Dilma espera ter ainda um portfólio de obras de infraestrutura para apresentar antes que a lei eleitoral proíba que ela saia pelo país inaugurando uma adutora ali, um projeto de irrigação acolá. Se conseguir criar um movimento desses por semana, serão pelo menos 50 no ano, descontadas as semanas de Natal e de ano-novo. A essas viagens, acrescente-se as solenidades de balanço de programas no Planalto, onde sempre vêm um grupo de beneficiados para tirar fotografia ao lado dela. Ou seja, movimentos não faltarão.
Por falar em movimentos…
A ideia de mostrar um governo mais efervescente vem da constatação, por parte de alguns petistas, de que é preciso dar um brilho maior ao Poder Executivo. A sensação entre eles é a de que o julgamento do mensalão deixou o governo opaco. E o último escândalo envolvendo a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, reforça isso. Outro dia, um petista comentava, “pô, agora que o julgamento do mensalão está no fim vem isso?!” Na avaliação dos petistas, o alento é a presidente Dilma ter agido rápido demitindo Rosemary. Mas, cá entre nós, leitor: precisa de um escritório da Presidência em São Paulo?
Enquanto isso, no ninho tucano…
Fernando Henrique Cardoso lançou ontem Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República, mas o senador pediu paciência. Aécio tem razão em não assumir a candidatura agora. O momento é de montar o projeto para se contrapor a um governo que é bem avaliado e, no ano que vem, percorrer o país. Pelo visto, ele e Dilma terão um ano destinado a acumular milhas voadas. Ela, para reforçar a imagem do governo e ele, para desconstrui-la.
Por falar em desconstrução…
Hoje é o último prazo para as empresas de energia optarem pela renovação das concessões. A Cesp já desistiu e a Cemig faz suspense. Com esse resultado, avaliam os tucanos, ainda não dá para a presidente Dilma cantar vitória nessa seara.
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