terça-feira, dezembro 04, 2012

Um alívio para os gregos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 04/12

A Grécia enfrenta desemprego de 25%, está em recessão há cinco anos e em março deu calote em parte da dívida. Mas, no meio desse caos econômico, pelo menos um indicador tem apresentado melhora nos últimos seis meses: os juros cobrados do governo estão em forte queda; saíram de 37% em março para 14% ontem. Isso diminui o risco de saída do país da zona do euro.

O retorno para 14% representa um alívio para os gregos, embora a taxa ainda esteja bem acima da de outros países. O governo português, por exemplo, paga 7,3%. A Espanha, 5,2%, e a Itália, 4,4%, para títulos com vencimento em 10 anos. De qualquer forma, a trajetória tem sido de queda e isso é uma boa notícia.

A taxa de juros cobrada dos governos é um dos principais indicadores de solvência. Se os juros são muito altos, isso quer dizer que ninguém quer financiar o déficit público. Há receio de calote, por isso, o preço cobrado é maior.

Parte dessa melhora é resultado do enorme esforço feito pelos gregos nos últimos anos para cortar gastos. Outra parte está relacionada ao programa de recompra de títulos públicos que o governo apresentou ontem. Os papéis que estão nas mãos de credores privados serão recomprados com desconto de até 70%. Para isso, serão usados recursos dos fundos de socorro. De forma simplificada, a Grécia ficará devendo menos ao mercado e mais aos seus vizinhos da zona do euro.

- Se a operação der certo, diminui bastante o risco de saída da Grécia da zona do euro. Os gregos ficam mais protegidos pelos outros países da região quando a dívida sai das mãos de credores privados e passa para fundos públicos - explicou Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o bloco pode perdoar um pedaço da dívida que a Grécia fez com os fundos de socorro. Para isso, será preciso que as contas gregas voltem ao azul, o que não acontecerá antes de 2014, pelas projeções da chanceler. Ou seja, o caminho é longo.

Ao lado do abismo fiscal americano, a Europa representa uma das principais ameaças para a economia mundial em 2013. Saber que o risco grego está em queda é uma ótima notícia não só para os gregos, mas também para o crescimento de nossa economia, que minguou nos últimos dois anos.

Espanha: maior dívida em 100 anos
A dívida pública da Espanha só faz crescer, enquanto a economia encolhe. No terceiro trimestre, superou ¬ 817 bilhões, o que equivale a 77,4% do PIB, o nível mais alto em 100 anos. E os números ainda vão piorar: estimada em ¬ 41 bilhões, a ajuda da Europa trará alívio a alguns bancos espanhóis, mas o efeito colateral será mais aumento de dívida para o governo.

Quem puxará o PIB?
Imagine que o PIB é uma carruagem puxada por sete cavalos. Três deles são a indústria, os serviços e a agropecuária. Outros quatro são os consumidores, o governo, os investimentos e o comércio com o exterior. Adaptando o exemplo para a economia brasileira, a indústria passa por um momento complicado, e os investimentos estão em queda. Os dois estão fora de forma. Já o governo gastou demais, e os consumidores fizerem muitas dívidas. Dão a impressão de cansaço. Como os países ricos estão em crise, o comércio com o exterior perdeu o ritmo. Difícil que ele aguente o tranco. Só restam, então, para puxar o nosso PIB, a agropecuária e o setor de serviços, incluindo aí o comércio. Parece pouco provável que o andar da carruagem seja forte apenas com esses dois. Ontem, o Boletim Focus reduziu para 1,27% a estimativa de crescimento deste ano e para 3,7% a do ano que vem.

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