segunda-feira, agosto 23, 2010

OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO

Uma aliança para o futuro
OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/08/10

Ao lado da Portugal Telecom, a Oi poderá ampliar os seus esforços para inclusão digital, assim como ocupar mercados na África e na América Latina 


A Oi, a maior empresa brasileira de telecomunicações, formalizou uma aliança com a Portugal Telecom. Conduzido com discrição, o negócio foi classificado por alguns como uma "desnacionalização" da Oi. Nada mais equivocado: a grande premissa da parceria é sua simetria. Ao final dos entendimentos, a Portugal Telecom terá 10% da holding controladora da Oi e a Oi terá 10% de participação no controle da Portugal Telecom -o que torna a Oi a maior acionista individual da empresa lusa.
Mas a promessa do futuro vale muito mais que o presente. Esta aliança é mais do que um acordo comercial, mais do que um arranjo societário. Ela aponta para uma nova estratégia de oferta de serviços ao consumidor. A partir dela nasce uma aliança transatlântica de telecomunicações, dando à Oi os músculos para se internacionalizar e ocupar mercados na América Latina e na África.
Em 1998, quando os controladores da Oi -os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte- assumiram a antiga Telemar, muitos acreditavam se tratar de um negócio de fôlego curto.
Conjectura plausível, pois o consórcio não contava com operadores estrangeiros. Mas, 12 anos depois e ano após ano gerando números expressivos -mais de R$ 60 bilhões em investimentos, mais de R$ 100 bilhões em impostos recolhidos, mais de 68 mil novos empregos-, as críticas mostraram-se vazias.
Talvez explicadas apenas pelo "complexo de vira-lata", porque somos exclusivamente brasileiros.
A nascente Telemar de 1998 tinha 32,5 mil funcionários, operando 8,5 milhões de linhas fixas.
Feita a reorganização necessária, e com o impulso da incorporação da Brasil Telecom, a Oi tem hoje 65 milhões de clientes, na telefonia fixa, no móvel, nos serviços de satélite, na TV a cabo, na banda larga e na internet. A Oi recebeu o "grau de investimento" das três principais agências internacionais de classificação de risco.
Desde as privatizações, deixaram o Brasil operadoras estrangeiras experientes, como Sprint, Bell South, AT&T, MCI, TIW, Bell Canada, France Telecom e Telia, além de um grande investidor internacional, o Citibank.
Também várias empresas brasileiras optaram por redirecionar seus investimentos, entre elas grupos como Safra, GP Investimentos, Bradesco, Banco do Brasil, Opportunity, Globo, Oesp, RBS, Splice, Vicunha, CR Almeida, Queiroz Galvão, Suzano e Inepar.
Apenas três grupos brasileiros mantiveram a aposta no setor, os controladores da Oi e a família Garcia, da Algar Telecom.
Quem ficou, viu. Telefone, até a privatização, era coisa da elite. Em 1998, para cada cem brasileiros havia uma linha fixa; hoje, são 230 milhões de linhas (187 milhões de celulares, 43 milhões de fixos).
Há mais telefone do que gente, em um dos processos mais democráticos já registrados de inclusão tecnológica.
Ao lado da Portugal Telecom, a Oi poderá ampliar seus esforços para a inclusão digital. Até o final deste ano, a Oi instalará banda larga em 46,8 mil escolas públicas urbanas do ensino médio e fundamental e terá levado internet de qualidade a mais de 90% dos municípios.
Mas o caminho a percorrer ainda é longo. O Brasil precisa de convergência tecnológica para desenvolver e fazer gestão de conhecimento no século 21. A aliança entre Oi e Portugal Telecom assegura o compromisso para superar este desafio.


OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO, 59, engenheiro, é presidente do Grupo Andrade Gutierrez e membro do conselho de administração da Oi.

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