O Estado de S.Paulo - 07/03
Em março de 2012, neste jornal, publiquei o artigo Cidades malcuidadas, cidades mal-amadas. A ideia foi convidar o então prefeito a incentivar suas 31 subprefeituras a promoverem um verdadeiro mutirão de zeladoria. Ruas sem luz e esburacadas, com placas de sinalização sujas ou danificadas, lixo não recolhido e muitas calçadas intransitáveis são problemas que devem ser atacados por quem está ali e investido de autoridade para tomar providências, até por questões de ordem econômica.
Dedução lógica: buracos e bueiros afundados nas ruas geram trânsito lento; trânsito significa perda de tempo e tempo é dinheiro; falta de iluminação gera insegurança (favorece a criminalidade) e retém as pessoas em casa; pessoas em casa não consomem; menos consumo, menos produção, menos arrecadação. E se os acidentados em ruas e calçadas acionassem a Prefeitura? Não haveria reajuste de IPTU suficiente para dar conta de tantos processos. E, por mais que se diga que calçada é responsabilidade do cidadão, tenho para mim que passeio público deveria ser responsabilidade do poder público.
Em outubro daquele ano, Fernando Haddad foi eleito prefeito da maior cidade do Brasil, responsável por significativa parcela do Produto Interno Bruto. Esperanças renovadas. Quem sabe alguém para entender a importância da zeladoria para o Município. A expectativa foi ainda maior quando Haddad criou o Conselho da Cidade.
Esse órgão consultivo, que funcionou muito bem em algumas gestões anteriores e que defendi diretamente com o atual prefeito, teria por objetivo reunir um grupo de lideranças para auxiliá-lo na gestão dos problemas do município. O organismo foi criado, mas pecou pelo gigantismo: são 150 representantes de movimentos sociais, sindicatos (entre eles o Secovi-SP), associações, artistas, políticos, lideranças religiosas, jornalistas, etc. Boa parte, aliás, a dizer amém, dado o alinhamento ideológico com o partido que ocupa o poder.
A proposta do conselho seria acompanhar o plano de metas, discutir com o prefeito e seus auxiliares os pequenos, porém inúmeros problemas da cidade, além de analisar a revisão do Plano Diretor. Mas, num grupo tão desse tamanho, é praticamente impossível obter consenso quanto a prioridades. É bacana, democrático, republicano, mas será que funciona? Quais os resultados concretos? Menos não seria mais? É certo que, no que diz respeito ao Plano Diretor, o fórum foi oportuno para a discussão de premissas que acabaram incorporadas no projeto de lei enviado à Câmara Municipal, como a necessidade de adotar novos modelos de ocupação urbana, com adensamento inteligente e sustentável, melhorando a mobilidade e a qualidade de vida da população ao aproximar moradia e trabalho.
Mas, enquanto o Plano Diretor aponta para o que virá, o que estamos vendo é uma São Paulo cada vez mais abandonada em questões que poderiam ser tratadas por simples zeladoria.
Estarrecidos, assistimos à instalação de uma "toxicolândia" em plena região da Avenida Paulista, objeto de denúncia do jornal Estado. Pode-se dizer que isso é responsabilidade das Polícias Civil e Militar. Mas também temos a Guarda Civil Metropolitana, com a missão de proteger bens, serviços e instalações municipais, além de desenvolver programas de proteção às pessoas, atuando junto com órgãos das esferas estadual e federal voltados à segurança pública e urbana. À luz desses objetivos, não seria o caso de o prefeito se envolver na solução? E o que dizer do subprefeito da região? Estivesse ele dedicado à zeladoria, não teria impedido essa feira livre de drogas?
Posso estar sendo duro demais, até mesmo injusto nessa análise. Mas o espírito é construtivo: acorde, prefeito Haddad! Ponha seus zeladores para trabalhar. Como síndico de nossa cidade, o senhor tem muito a fazer. E conte conosco!
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