O GLOBO - 07/03
Na economia, muitas vezes ficam todos presos a minúcias, sem ver o panorama. O Banco Central disse na ata do Copom que está "especialmente vigilante" no combate à inflação. Mas o fato concreto é que o Brasil está muito longe do centro da meta e não a encontrou desde o começo do governo Dilma. Comparado a vários países, nossos vizinhos, o Brasil tem taxa e meta altas.
A cada 45 dias, o Banco Central divulga a ata do Copom, sempre na quinta-feira da semana seguinte ao dia da reunião. Esses rituais têm seu valor. Servem para dar previsibilidade, o que na economia é muito importante. Mas esses comunicados não podem ser um palavrório atrás do qual se esconde a verdade. E ela é cristalina. O governo se acostumou com a taxa alta demais, o BC finge que acredita nos anúncios de austeridade fiscal e aceita a distorção de preços administrados congelados. Prevê, por exemplo, que os combustíveis não vão subir. Coisa estranha num período de volatilidade de preços e câmbio.
Assim que foi divulgada ontem a 181ª ata do Copom, ela foi comparada palavra por palavra com a anterior. Com lupa, procuram-se as inclusões e supressões para que os economistas possam traduzir tudo. A conclusão é que os 32 parágrafos são quase idênticos aos da ata da última reunião. O BC justificou a redução do ritmo de alta dos juros lembrando que as elevações se manifestam com defasagem. Ou seja, como as taxas já subiram bastante, o efeito continuará sendo sentido na economia nos próximos meses. E, com uma palavrinha aqui outra ali, os economistas concluíram que a autoridade monetária fará pelo menos mais uma elevação, para 11%, mas também pode parar de subir.
Isso resolve? Não. Não se combate inflação apenas com juros. É preciso controle de gastos públicos, como aprendemos há muito tempo. É preciso ter confiança de que o governo está mesmo determinado a levar a taxa para a meta. E a própria meta tem que ser declinante, porque 4,5% é muito.
Tudo o que se sabe é que para este governo um número que seja de 6,5% para baixo é considerado bom, comemorado e tratado como cumprimento de meta. Com os preços estacionados em nível tão alto, qualquer choque, crise ou inesperado eleva os preços.
Para todos os efeitos, a meta foi cumprida no ano passado, apesar de sabermos que a energia foi reduzida a um custo de R$ 9 bilhões para o Tesouro e que este ano o gasto será maior. O governo está dando para os consumidores a informação errada sobre o preço da energia. Isso faz com que não se reduza o consumo. E quanto mais consumo houver mais será preciso usar as térmicas e maior será a conta, que um dia chegará.
O BC sempre fala de dois cenários, o de referência e o de mercado. Nos dois, a inflação permanece acima do centro da meta até 2015. Da mesma forma que aconteceu em 2011, 2012 e 2013. E isso apesar de várias manobras como a que está arruinando o caixa da Petrobras. O governo administra mensalmente o índice, mas não consegue levar a inflação a 4,5% nem em um ambiente em que a economia cresce pouco.
É preciso mais ousadia e sinceridade em alguns comunicados. A previsibilidade da política monetária é boa, mas esse vocabulário ascético tem sido usado, hoje, apenas para encobrir problemas que estão ficando crônicos. Os países que estão com inflação do tamanho da do Brasil ou acima estão todos na lista dos frágeis e vulneráveis. Lista na qual não queremos ficar. Por isso, é necessário buscar taxas mais baixas da forma certa e não se dizer "especialmente vigilante" no quarto ano em que o país está perto do teto da meta.
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