O GLOBO - 07/03
Em mensagem à CNBB, a propósito da recém-iniciada Campanha da Fraternidade deste ano, o Papa faz severa condenação ao tráfico de seres humanos
O Papa Francisco — que, sendo argentino, conhece bem os problemas de países sul-americanos — acaba de nos mandar um recado tão severo quanto pertinente.
Em mensagem dirigida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a propósito da recém-iniciada Campanha da Fraternidade deste ano, ele faz severa — e obviamente justa — condenação ao tráfico de seres humanos. Certamente, como argentino, Francisco sabe do que está falando, e principalmente a quem está dirigindo suas palavras.
São palavras duras. Mas não surpreendem. Ele está, na verdade, aplaudindo a escolha pelo clero brasileiro do tema da campanha deste ano, que é, precisamente, esse comércio maldito. O Papa define com precisão o seu tema: “Pense-se em adoções de crianças para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem direito nem voz.”
É deprimente, para os brasileiros, ouvir essas palavras sobre uma situação que todos conhecemos. Principalmente, que o governo brasileiro conhece há muito tempo. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não desmentiu as palavras do Papa, mas se limitou a tentar dar um álibi para as autoridades brasileiras: “O tráfico de humanos é um crime subterrâneo, de difícil apuração.” A dificuldade estaria concentrada no fato de que “as pessoas não noticiam o tráfico de pessoas”.
Poderia ficar calado: o combate a qualquer atividade criminosa de larga escala pode ser ajudado pela iniciativa de cidadãos corajosos, mas não depende apenas disso. A investigação de um crime que ocorre em larga escala deve ser feita, como ocorre em muitos países, a partir do trabalho das autoridades públicas. Quando esse trabalho existe — igualmente em larga escala — e é eficiente, a opinião pública não só aplaude como ajuda.
Enfim, as autoridades brasileiras estão diante de um apelo sério e importante do Papa. A resposta obviamente não pode ser limitada às lamentações do ministro da Justiça sobre a escassa colaboração da opinião pública. Em geral, quando as autoridades mostram empenho e eficiência no seu trabalho, os cidadãos tendem a colaborar. O que parece estar faltando no Brasil é um exemplo de empenho e eficiência do poder público. Algo que mereça um sincero aplauso de Roma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário