FOLHA DE SP - 17/10
Resultados melhores no comércio e no emprego mal disfarçam ano mais fraco da década
FOI O MELHOR setembro desde 2010 no mercado de trabalho formal, soubemos ontem pelos números do Ministério do Trabalho.
As vendas do comércio cresceram pelo sexto mês consecutivo, soubemos anteontem pelos números do IBGE. Superaram de longe a média das previsões dos economistas.
Está bem.
Este 2013, porém, deve ser o mais fraco no que diz respeito ao aumento relativo do número de empregos formais, com carteira assinada, desde 2003.
Este 2013, porém, deve ser o de menor crescimento das vendas do comércio de varejo desde 2003.
Está ruim, então?
Não, não está, se a gente leva em conta apenas o cotidiano da média dos brasileiros.
O número de empregos formais cresceu até agosto 2,6% sobre o ano passado.
O faturamento do varejo cresceu 3,8% (janeiro a agosto deste ano sobre o mesmo período de 2012). Esse crescimento fica desenxabido, sem graça, se a gente lembra das taxas de 2010 a 2012, de 9% em média, "chinesas", como diz o clichê.
A renda do trabalho, pelo menos nas maiores regiões metropolitanas, está crescendo mais devagar, mas cresce ainda, com o menor desemprego em décadas.
A economia está esfriando, mas a sensação térmica não é tão ruim.
Neste ano, aliás, até antes de junho, o nível de otimismo dos brasileiros com a economia flutuava em torno das médias bem altas verificadas desde 2007.
Foi então, nos protestos, que as pessoas descobriram que eram infelizes, mas não sabiam, embora a mudança de humor súbita aparentemente tenha sido apenas temperada pela piora econômica, inflação em particular.
É preciso lembrar que nestes três anos de Dilma Rousseff a economia terá crescido apenas uns 2% ao ano. O crescimento per capita, por cabeça, pouco mais de 1% ao ano.
Ainda assim, dado o mau estado geral da saúde econômica do Brasil, portanto, estamos tirando leite de pedra, por assim dizer. Ou matando a galinha dos ovos de bronze. Dourando a pílula. Adiando o dia de pagar as contas de excessos dos últimos três, quatro anos.
Inflação alta, deficit externo em alta contínua, investimento ainda muito parco, tudo isso é sinal de que a economia está com a língua de fora. O crédito nos bancos privados cresce também bem mais devagar. Isto é, trata-se de outro sinal de desconfiança no crescimento da economia e da renda, além de receio devido ao endividamento ainda excessivo do público.
Mesmo o governo passa a impressão de que enfim percebeu que não tem como gastar muito mais; o Banco Central vai elevando os juros.
Logo, as notícias mais animadoras que aparecem depois dos abalos de junho-julho não refletem uma "reação", como dizem o pessoal do governo e agregados. Ou, pelo menos, de que se trate de que "voltamos aos trilhos", de que "agora vai", de que "a crise passou" ou seja lá qual for a conversa.
A depuração dos excessos não começou, ou mal começou, se a gente leva em conta a alta dos juros. Como o governo não vai tomar providências eleitoralmente irritantes daqui até a eleição, e talvez nem depois disso, o acerto de contas fica para 2015.
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