Tenho insistido em que o Brasil é prisioneiro da armadillha social-democrata de baixo crescimento. Os dados mais recentes divulgados pelo IBGE mostram que a economia se expandiu apenas 0,6% no terceiro trimestre de 2012, metade da expectativa de 1,2% antes anunciada pelo governo. A taxa anual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano será uma decepção, em torno de 1%, um balde de água fria também sobre as expectativas de crescimento para 2013.
Nos anos de 2010 e 2011, recorremos com sucesso a políticas contracíclicas de expansão da demanda para escapar do buraco negro que ameaçou tragar a economia mundial em 2008 e 2009. Mas sabemos todos que o arsenal keynesiano tem efeitos transitórios. Funciona por algum tempo para estimular a demanda, mas não consegue promover o crescimento sustentável da oferta. Exatamente por isso, o país tornou-se aspirante à excelência na prática do "voo de galinha", modalidade de crescimento em que há muito barulho e curto alcance.
Nossos instrumentos de inclusão social são orçamentos públicos — e não o mergulho nos mercados globais de trabalho, em busca de uma integração competitiva, como fazem os asiáticos. A ênfase brasileira está na expansão do consumo à base do crédito fácil, como fazem os americanos, agora enrascados nas bolhas em série. Nosso sistema de aposentadoria pública tem pretensões europeias. Isso garante sua falência antes mesmo do envelhecimento de nossa população. O consumismo desenfreado, estimulado por financistas, e os delirantes benefícios sociais prometidos por uma social-democracia hegemônica nos colocam na rota de uma crise futura de grandes proporções, como enfrentam agora americanos e europeus.
Sabemos todos que a verdadeira trilha de crescimento sustentável exige, tanto do sistema financeiro convencional quanto de um regime previdenciário moderno, contribuições reais à dinâmica de acumulação de capital. Os sistemas financeiro e previdenciário devem apoiar a ampliação da capacidade produtiva no país. Trata-se da busca pelo aumento da taxa de investimento e pela maior eficiência na seleção dos setores e das empresas em que os recursos serão investidos.
Esse bom funcionamento da engrenagem produtiva exige as reformas de modernização, que uma hesitante social-democracia não soube oferecer ao país. Ao contrário, o governo tem insistido nas políticas contracíclicas de fôlego curto, particularmente nos últimos anos. O baixo ritmo de crescimento registrado em 2012 não deveria, portanto, nos surpreender. Trata-se, de um lado, do gradual esgotamento dos estímulos à expansão de demanda. E, de outro lado, da ausência de adequados incentivos ao crescimento da oferta.
Verifica-se hoje uma superposição de fenômenos preocupantes. Desce, lenta mas sistematicamente, a taxa de investimento da economia. Aumenta a participação do setor público na seleção e no financiamento dos grandes projetos de investimentos. Isso pode ser sinal de menor eficiência econômica e de maior influência política nos critérios de avaliação adotados. Avança o desconcertante processo de desindustrialização. É inegável nossa perda de competitividade ante a avalanche industrial asiática. A balança comercial prossegue em franca deterioração, com estagnação das exportações e disparada das importações.
Têm sido também infelizes as macrointervenções setoriais anunciadas pelo governo. A mudança do sistema de concessões para o regime de partilha, na exploração de petróleo, acabou retardando o ritmo de investimento no setor. Afundaram os preços das ações da Petrobras. Desabaram também os preços das ações da Companhia Vale do Rio Doce, quando o governo decidiu interferir na direção da empresa e em sua política de investimentos. O uso dos bancos oficiais para derrubar os juros e comprimir margens de lucro do setor derrubou em sequência os preços das ações das instituições financeiras. O anúncio de mudança no marco regulatório do setor elétrico fez desabar também aí os preços das ações.
Claro que tudo isso deprime o ímpeto de investimentos na economia. Se os preços dos ativos existentes são derrubados por intervenções que aumentam os riscos e ameaçam os retornos futuros, desaparecem os incentivos à ampliação da capacidade produtiva nacional. Justamente quando esses ativos disparam em preços — excedendo o custo de produção de novas fábricas, equipamentos e instalações industriais —, surgem os incentivos à ampliação da capacidade produtiva por meio de novos investimentos.
Macroambiente favorável aos negócios, clima propício aos investimentos, expressiva valorização dos ativos existentes e expectativas de baixo risco e bons retornos futuros são indicadores visíveis ao longo da trilha de crescimento sustentável. Essa não é definitivamente a configuração macroeconômica que observamos.
Há recursos financeiros de sobra no mundo, em busca de boas oportunidades de investimento. Há também a realocação de recursos internos, que reagem à queda dos juros. Eles saem das aplicações em títulos de renda fixa, em busca da maior rentabilidade dos ativos de risco. São circunstâncias extraordinárias para criar ondas colossais de novos investimentos. Áreas críticas, como educação, logística e infraestrutura, podem receber essas novas ondas de recursos, aumentando a produtividade do trabalhador brasileiro e a competitividade das empresas.
As perspectivas para 2013 são um pouco melhores, mas não muito. Um crescimento econômico de 2,5% a 3% e uma taxa de inflação em torno de 6% seriam estimativas críveis. Um desempenho aparentemente satisfatório em meio à grande crise contemporânea e à guerra mundial por empregos, mas absolutamente medíocre ante o potencial econômico do país. Essa longa pausa no crescimento mundial, uma fase de estagnação das economias centrais, é uma janela de oportunidade para os emergentes reduzirem suas distâncias de riqueza. Somos por bom período a nova fronteira do crescimento econômico mundial. Mas não estamos sabendo aproveitar essa oportunidade. Uma boa dose de inteligência de negócios em nossos marcos regulatórios pode fazer toda a diferença para destravar os investimentos e acelerar o crescimento.
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