FOLHA DE SP - 21/01/12
A semana que acaba foi rica sobre o estado das coisas. Alguém vai concordar comigo, citando as profundas discussões sobre o circo do "BBB 12" ou sobre a tal Luiza.
Sinto desapontar. Falo de um desdobramento central da crise do euro, expresso no pedido do FMI para que países emergentes colaborem mais para o fundo que visa estabilizar o que chamávamos de Velho Mundo.
Diferentemente da obsessão de FHC pelo Conselho de Segurança da ONU ou da "nova geografia mundial" pretendida por Lula, está aí uma oportunidade de ouro.
O mundo de Bretton Woods, da arquitetura financeira mundial do pós-guerra, está morto. Mas suas instituições, FMI à frente, seguem vivinhas. Portanto, parece natural que o Brasil atenda ao chamado.
Claro, há um "schadenfreude", aquele prazer com a desgraça alheia, entre governantes do antigo Terceiro Mundo quando veem as potências em apuros e recorrendo a pacotes que eram vistos por aqui como armas imperialistas.
Mas isso é fútil. Sem os bilhões de ajuda do FMI do nosso passado recente, apesar do receituário amargo que os acompanhava, o Brasil demoraria a sair do buraco. É hora de retribuir, e cobrar a fatura justa: a reforma do sistema de cotas.
Para quem viveu a crise das décadas finais do século 20 no Brasil, só a discussão já causa certo assombro. Pena que nos falte instrumento com o impacto de uma "Das Coisas Novas", bula papal seminal sobre a realidade do trabalho em 1891 cujo título eu roubei para esta coluna. Ou não: seria "trending topic" do Twitter só por algumas horas.
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Numa nota lateral, mas que tem tudo a ver com o dito acima, não deixa de causar riso a ironia da acusação britânica de que Buenos Aires é "colonialista" na sua disputa pelas ilhas Falklands -que, de todo modo, nada têm de argentinas.
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