CORREIO BRAZILIENSE - 08/09
Parece ironia lembrarmos que, há 30 anos, parlamentares do PMDB lideravam as manifestações em prol das eleições diretas. Agora, na chefia do Poder Legislativo, eles arrumam outras atividades no dia do desfile do Sete de Setembro
O desfile do Sete de Setembro sempre foi considerado o “espelho” da nação. Em anos anteriores, passaram pela Esplanada nossos atletas, nossas Forças, valorosos soldados e oficiais em números expressivos. No palanque, invariavelmente, os Poderes da República, representados por autoridades máximas. Ontem foi diferente. Não é exagero dizer que foi a comemoração mais acanhada da história recente do país. E, entre as autoridades, a sensação geral, segundo quem estava no palanque, era a de que todos queriam sair logo dali. Na passarela, contingentes reduzidos de militares expuseram a escassez de equipamento das nossas Forças Armadas. Na tribuna de honra, as ausências dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), exibiam um Legislativo distante do civismo que se espera de seus comandantes.
Obviamente, muitos se apressam em alegar outros compromissos para justificar ausências. Henrique, por exemplo, teve um evento em seu estado natal, o Rio Grande do Norte, na sexta-feira. Balela. O principal fator foi o receio das manifestações. Parece ironia lembrarmos que, há 30 anos, parlamentares do PMDB lideravam os movimentos em prol das eleições diretas. Agora, na chefia do Poder Legislativo, arrumam outras atividades no dia do desfile do Sete de Setembro e, assim, escapam das pessoas que protestam contra a corrupção e pedem mais ética na política.
Nesse sentido, vale louvar a atitude da presidente Dilma, que chegou de Moscou na madrugada de ontem e compareceu. Abriu o desfile com 15 minutos de atraso. Estranhamente, as evoluções dos fuzis do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) e a pirâmide humana da Polícia do Exército passaram antes da chegada de Dilma. A justificativa foi a de que era para entreter o público. Que público? Só se fosse as autoridades, familiares e servidores públicos que ocupavam as arquibancadas, além de nós, jornalistas, que já estávamos por ali desde as 8h.
Por falar em público…
Os contatos da presidente com o povo estão cada vez mais via satélite ou parabólica. Quem costuma ler esta coluna sabe, por exemplo, que Dilma ampliou o número de pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e tevê, quando aproveita para anunciar boas novas. Desta vez, entretanto, ela substituiu os anúncios pela defesa de sua gestão e dos programas de governo, como se quisesse dar uma satisfação, em especial sobre assuntos que preocupam o eleitor, caso da saúde pública. Dentro do governo, há quem diga que a presidente não precisa mais anunciar programas, e sim executar o que já lançou, e expor aos eleitores o andamento de todas as iniciativas adotadas até aqui. Os oposicionistas, por sua vez, consideram que Dilma só não cria mais programas porque talvez a caixinha de novidades governamentais esteja esgotada, tal e qual a alegria geral do povo em relação ao desfile de Sete de Setembro.
Enquanto isso, no PT…
A avaliação do partido é a de que as manifestações refluíram, embora tenha havido registro de graves incidentes ontem. O que não é possível saber com clareza é por que essa redução em relação a junho. Os oposicionistas dizem que é por causa do aparato policial levado para as ruas, ou em decorrência do aumento da violência e do quebra-quebra. Quanto ao governo, a ordem é considerar que esse esvaziamento reflete o desinteresse da população em protestar.
Os petistas acreditam — e se preparam — para vender a tese de que a população está perdendo a vontade de se manifestar graças aos sinais recentes de recuperação da economia. Mas, enquanto seus líderes não tiverem essa certeza com base em pesquisas detalhadas, será difícil relaxar em grandes eventos ou reduzir o aparato policial, em especial nos maiores colégios eleitorais, Rio e São Paulo, e na caixa de ressonância, que é Brasília. A impressão que se tem é a de que o que se viu ontem em termos de tapumes e aparato policial, com a população longe da festa, será repetido por diversas vezes. É pena.
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