FOLHA DE SP - 08/09
Manifestações do Sete de Setembro não incluem nada sobre nacionalidade, soberania e independência
Um Sete de Setembro único em 190 celebrados.
Manifestações públicas de insatisfação houve muitas desde 1823, incontáveis em tantas cidades, fossem de sentido mais político ou mais social. Mas as referências oficiais a manifestações prometidas para este Sete de Setembro encobriram a verdadeira razão das medidas preventivas extraordinárias. Não foram manifestações que as motivaram.
Foi o temor, ou a convicção mesmo, de ataques depredadores indiscriminados, de grandes proporções e com ameaças pessoais implícitas, em várias capitais e cidades de porte maior. Uma ação de violência pública que nenhum Sete de Setembro pretextou jamais.
Mesmo as celebrações da dita Independência durante a paranoica ditadura militar não precisaram prevenir além de manifestações individuais e grupais com cartazes e coros, não ataques físicos. Prevenção, aliás, que nunca funcionou, levando às habituais reações de pancadaria e prisão.
Curiosa também, neste ano, é a completa desconexão entre os simbolismos pespegados no Sete de Setembro e as convocações para ocupá-lo sem nelas incluir, sequer remotamente, algo da ideia de nacionalidade, ou de soberania, de independência mesmo.
Pelo visto, não faria diferença se, em vez do Sete de Setembro, a celebração mais próxima fosse o Natal. Ou Finados.
ESPIONAGEM
Ainda que Barack Obama cumpra o prometido a Dilma Rousseff, de remeter-lhe até quarta-feira as considerações devidas sobre a violação das comunicações reservadas da presidente, uma informação fundamental não virá: o governo brasileiro não sabe o que foi captado pelos americanos. Nunca saberá. Nem ao menos sabe desde quando as comunicações da Presidência brasileira eram interceptadas pela espionagem americana.
Um obscuro episódio ganha, no entanto, uma hipótese luminosa com a revelação, por Edward Snowden e pelo jornalista Glenn Greenwald, dessa espionagem. É a bem sucedida intermediação, a pedido de Obama, feita pelo então presidente Lula e pelo turco Tayyip Erdogan no caso do enriquecimento iraniano de urânio, com fins imaginadamente militares. Obtida pelos dois a desejada concessão do Irã para conversações e inspeções, Obama, surpreendentemente, desconheceu-a. Sem uma palavra a Lula e Erdogan.
A rasteira diplomática e a grosseria pessoal nunca tiveram explicação. Agora a espionagem violadora de telefones e e-mails dos governos brasileiro e turco, entre outros, comprovada mas de início ignorado, suscitou uma hipótese: o governo americano captou alguma coisa que tomou, certa ou erradamente, como razão para sustar as operações com Lula e Erdogan.
ESTRANHEZA
Na sessão de quarta-feira do Supremo Tribunal Federal, ficou revelada uma omissão muito esquisita no acórdão que reúne o que se passou no julgamento do mensalão, até às sentenças. O valor do peculato de que o procurador-geral da República acusou o deputado João Paulo Cunha, na denúncia, não foi transcrito no acórdão. Na denúncia, porém, era claro e preciso: R$ 536.440,55.
Sem a definição de tal valor no acórdão, o acusado não teria como restituí-lo aos cofres públicos, o que lhe abriria a possibilidade de passar da condenação em prisão fechada para a condenação em regime semiaberto.
Elaborador do acórdão, o ministro Joaquim Barbosa tentou ainda evitar a citação da importância. A maioria a incluiu.
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