O Estado de S.Paulo - 08/09
Se a economia brasileira vai mal dentro do País, fora dele segue aos trancos e barrancos. O crescente déficit externo, a saída líquida de US$ 9,9 bilhões nos últimos três meses e o péssimo desempenho da balança comercial são reflexos da ausência de uma política (diplomática, inclusive) bem arquitetada, de um programa de governo em que a ação presente previna problemas e leve à prosperidade no futuro. Os brasileiros sentem falta de um competente e consistente projeto para o País. Como isso não surgiu em 32 meses de gestão, e não há mais tempo nos 16 meses que restam, a presidente Dilma caminha no ritmo do samba de Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar, vida leva eu". A percepção dessa falta e as ações fracassadas do governo (aposta em empresas campeãs, demora em priorizar investimentos, licitações mal feitas, etc.) estão na essência da crise de confiança de empresários e investidores em relação ao governo e na queda do Brasil da 48.ª para a 56.ª posição no ranking mundial de competitividade, segundo pesquisa feita com executivos de empresas em 148 países.
Nos últimos dias o governo divulgou informações que confirmam o crescente agravamento do setor externo da economia. Vamos a elas.
Apesar do saldo positivo de US$ 1,2 bilhão em agosto, a balança comercial registra em 2013 seu pior desempenho dos últimos 18 anos. Os números impressionam: de um superávit de US$ 13,149 bilhões, de janeiro a agosto de 2012, o País deu uma guinada em marcha a ré para um déficit de US$ 3,8 bilhões no mesmo período de 2013. Até julho, as exportações apresentavam queda de 2,16% e as importações, expansão de 9,3%. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, repete a desacreditada lengalenga de todo mês do Ministério da Fazenda: está ruim, mas vai melhorar. Ele culpou a Conta Petróleo - aliás, mais uma das trapalhadas do governo -, mas garante que a produção interna vai aumentar e a importação vai cair. Só precisa avisar a Agência Nacional do Petróleo, que todo mês divulga sucessivas quedas na produção de óleo da Petrobrás.
Em agosto a saída líquida de divisas do País atingiu a assustadora cifra de US$ 5,85 bilhões, a maior dos últimos 15 anos. Não chega a configurar uma situação de fuga de dólares, porque parte da evasão se refere a pagamento de dívidas externas das empresas. Além disso, o País acumula US$ 370 bilhões em reservas cambiais, que funcionam como um colchão amortecedor. Porém, não se trata de um problema episódico que não mais se repetirá. Há três meses saem mais dólares do que entram e, nesse período, a perda acumulada já soma US$ 9,9 bilhões.
Razões fortes há para isso. Com a recuperação da economia dos EUA, o Federal Reserve (o banco central de lá) anunciou que vai retirar os estímulos monetários que inundaram de dólares os países emergentes. O mercado já vem se antecipando a isso: o dólar encareceu no Brasil e investidores estrangeiros que antes aplicavam suas poupanças nos emergentes passaram a desviá-las para os EUA e outras economias maduras que voltaram a crescer. Com isso, a expectativa é de escassez de dólares agora e num futuro próximo, a evasão de divisas tende a piorar e as reservas cambiais, a cair.
Agora a boa notícia: o governo Dilma anunciou que prepara uma proposta de acordo de livre-comércio para negociar com a União Europeia que implicará redução da tarifa de importação de produtos que abrangem 75% do comércio com a Europa. Se a intenção é mesmo para valer (há quem duvide), o Brasil precisa se livrar das amarras que o prendem ao Mercosul e negociar sozinho. Argentina e Venezuela dificilmente concordarão em abrir seu comércio. As barreiras que os dois têm imposto às suas importações, inclusive de produtos brasileiros, comprovam que estão mais para fechar do que abrir.
O Brasil já negocia um acordo internacional com o bloco do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sem os encrenqueiros do Mercosul. Os entendimentos andam devagar, mas andam. Vale repetir a experiência.
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