domingo, setembro 08, 2013

Como estimular a demanda? - GUY RYDER

CORREIO BRAZILIENSE - 08/09

Nos últimos meses, temos visto sinais que prometem recuperação econômica. Parece que o crescimento volta à zona do euro. Nos Estados Unidos, os economistas preveem que 2014 pode ser o melhor ano para o crescimento desde 2005. A China também apresentou melhoras no setor industrial. São boas notícias. Mas, além das manchetes, o panorama é diferente e preocupante.

O desemprego continua em níveis inaceitavelmente altos e se prevê que aumente em todo o mundo dos atuais 200 milhões de desempregados a quase 208 milhões em 2015. Na maioria dos países do G20, as condições do mercado de trabalho melhoraram ligeiramente, ou não melhoraram nos últimos 12 meses. Em alguns casos, deterioraram-se de maneira significativa.

Muitas das pessoas ocupam empregos de baixa qualidade, frequentemente temporários, ou trabalham involuntariamente em tempo parcial. A média dos salários reais caiu ou parou de crescer em numerosas economias avançadas. Entre as emergentes, os salários reais apresentam ritmos distintos. Em alguns países, crescem com rapidez. Em outros, as taxas de expansão estão abaixo dos níveis anteriores à crise.

É provável que haja diferenças de opinião sobre o melhor caminho a seguir - políticas de austeridade ou políticas de crescimento. No entanto, no que todos coincidimos é que, globalmente, existe um déficit de demanda agregada. Em outras palavras: a demanda total de bens e serviços não é suficiente para empregar milhões de pessoas, ou para dar às empresas confiança suficiente que lhes permita crescer.

Cada componente - chave da demanda - dispêndios em consumo, investimento, gasto público e exportações - permanece abaixo dos níveis pré-2008. É um círculo vicioso que começa no consumidor, causando reação em cadeia em outros âmbitos. A demanda se origina em casa, mas a renda está afetada por anos de congelamento de salários.

Tal quadro tem consequências. As empresas só investem caso haja demanda. Mas as políticas de austeridade aplicadas por muitos governos nos últimos anos deprimem a demanda pública. A chave para romper esse círculo reside na criação de mais empregos de qualidade e, ao mesmo tempo, no aumento da produtividade. Trata-se de combinar políticas econômicas e laborais.

O caminho foi acertado em reunião dos ministros do Trabalho e Emprego e dos ministros de Finanças do G20 em Moscou em julho de 2013, a primeira que fizeram de forma conjunta. Onde se dispõe de margem, os governos deveriam investir em construção de estradas, escolas e outras obras de infraestrutura que aumentarão a eficiência das economias a longo prazo e, ao mesmo tempo, criarão empregos a curto prazo. Austrália, Canadá, Indonésia e Japão destinaram importantes recursos a esse tipo de investimento em infraestrutura.

Os governos deveriam, além disso, incentivar os bancos para conceder empréstimos às pequenas e médias empresas. O acesso a crédito barato ajudaria a criar um clima nacional favorável aos investimentos e aos negócios, o que geraria por sua vez mais empregos de qualidade.

As políticas do mercado laboral frequentemente são percebidas como apêndice das políticas econômicas, mas, em realidade, são decisivas para melhorar a demanda agregada. Elas compreendem o estabelecimento de salários mínimos e o reforço a vínculo entre a produtividade e os salários, já que o incremento de renda geraria elevação da demanda. A China adotou ativamente e com êxito essas políticas que resultaram em aumentos anuais de dois dígitos nos salários mínimos durante os últimos 20 anos.

Também são essenciais programas que aumentam os sistemas de proteção social para reforçar a capacidade de resistência das famílias aos impactos econômicos e estimular a demanda agregada. O Brasil está executando com êxito um programa dirigido aos mais pobres que combina transferência de renda, oportunidades de emprego e acesso a serviços públicos.

Temos a esperança de que o que estamos vendo sejam os brotos verdes da recuperação, mas o crescimento ainda é limitado e frágil. A situação do emprego continua se deteriorando. Até que reconheçamos que as políticas que freiam a demanda das famílias trabalhadoras, das pequenas e médias empresas e dos governos é combinação de políticas equivocada, qualquer avanço econômico será efêmero.

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