Gays
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 30/06/11
Este fenômeno deve ter a ver com outro de difícil compreensão. Ouvi dizer que as formaturas nas universidades brasileiras voltaram a ser paramentadas, com becas e tudo, não por insistência de pais tradicionalistas mas dos próprios formandos, que em vez da informalidade que se esperava deles num mundo cada vez mais prático e sem tempo para velhos costumes ou costumes de velhos, exigiram todas as formalidades.
No fim as pessoas querem significado. Querem que o valor do que fazem seja enaltecido pela cerimônia, qualquer cerimônia. Mesmo careta.
Seja como for, aposto que daqui a alguns anos, quando se puder fazer a estatística, menos gays dos que estão se casando agora terão se separado do que casais heteros. Se a instituição do casamento sobreviver aos tempos e aos modos, será em boa parte graças a eles e a elas.
PASSADO
(Da série “Poesia numa hora destas?!”)
Lembranças vagas.
Vultos sem precisão
no meio da serração.
Uma praça, um
possível coreto
e aquilo será um mastim,
ou a tuba do Serafim?
A mesma em que, num domingo
entrou um gato desgarrado
e pôs-se a miar adoidado
no ritmo do dobrado?
Talvez com ouvidos afiados
ainda se possa ouvir
os miados
como vozes abismais
repetindo “Nunca mais”.
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