A falsa ciência dos juros
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/04/11
SÃO PAULO - Em maio de 2003, resumi alentado estudo do FMI, enviado pelo leitor Jacques Dezelin, que desmonta a sabedoria convencional sobre o efeito de aumentos na taxa de juros.
O FMI examinou 1.323 casos de 119 países no período 1982/98. Na maioria dos casos examinados, a inflação caiu, tenha o respectivo Banco Central aumentado, diminuído ou mantido a taxa de juros.
Em 62,18% dos 476 casos examinados, o juro caiu e a inflação também. Em apenas 50,75% de 398 situações, deu-se o que a sabedoria convencional espera, a queda da inflação após aumento dos juros.
O leitor tirou a lógica conclusão de que há um "caráter meramente aleatório na relação (ou melhor, na ausência de relação) entre a variação da taxa de juros fixada pelo Banco Central e a inflação".
Publicado o texto, vieram dois telefonemas. Um do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, que queria saber quem era o leitor que compilara os dados. O outro de Antonio Delfim Netto, então deputado e sempre tido como grande mestre da economia, que pediu as tabelas do FMI e acabou chamando Dezelin para conversar.
Ou seja, tanto um semileigo em economia, como Palocci se confessava, como um mestre mostraram interesse em saber mais sobre um desafio à sabedoria convencional, em evidência cristalina de que economia não é ciência exata, ao contrário do que querem fazer crer certos economistas.
Alias, Delfim Netto nunca disse outra coisa, sejamos justos.
Conto tudo isso para dizer que não há ciência nas críticas ao BC por ter aumentado 0,25% a taxa de juros, em vez do 0,50% exigido pelos mercados. Ninguém pode decretar o efeito que terá o 0,25% ou que teria o 0,50%.
Senta, pois, leitor, que o leão pode ou não ser manso, mas ninguém sabe antecipadamente.
PS - Saio de férias hoje.
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