ZERO HORA - 16/12
Esta lógica do Bolsa Família faria ainda mais sentido se tivéssemos uma educação de qualidade.
É instigante e desafiadora a tese levantada pelo ex-ministro Maílson da Nóbrega, em recente artigo publicado pela revista Veja, sobre a porta de saída do programa Bolsa Família. Ele argumenta que a tão reclamada alternativa está no próprio programa, pois os filhos das famílias carentes beneficiadas, obrigados a estudar como contrapartida ao benefício, tendem a se livrar da síndrome da pobreza e da dependência porque, com estudo, terão melhores empregos e mais prosperidade. Faz sentido. Na mesma edição da revista, o economista Claudio de Moura e Castro conta como mecânicos ingleses que aprenderam a ler foram decisivos na Revolução Industrial do século 18. Mas esta lógica do Bolsa Família faria ainda mais sentido se tivéssemos uma educação de qualidade.
Infelizmente, esta porta encontra-se bloqueada. Basta observar os resultados do último Pisa, exame aplicado pela OCDE para medir o desempenho escolar de jovens estudantes em várias partes do mundo. O levantamento, que avalia o rendimento de estudantes em leitura, matemática e ciências, coloca o Brasil na 57ª posição entre 65 países. Por trás da péssima colocação está uma constatação verdadeiramente alarmante: a maioria dos estudantes brasileiros chega aos 15 anos, a idade da avaliação, sem saber contas simples de divisão e multiplicação, com insuficiente compreensão sobre os fenômenos naturais e total incapacidade de interpretar textos mais complexos. Ou seja, são pessoas absolutamente despreparadas para a vida.
Como as famílias brasileiras se satisfazem com pouco no que se refere à educação, até mesmo porque muitos pais não têm formação adequada, inexiste uma pressão popular pela excelência no ensino. Pesquisas recente do Ministério da Educação mostram que os responsáveis pelas crianças que estudam em escola pública exigem apenas instalações adequadas, merenda escolar e presença de professor. A nota média atribuída a esse serviço foi de 8,5 _ como se tivéssemos um sistema escolar muito bom.
Não temos. E nem é preciso comparar com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento para que isso fique evidente. Basta conferir os resultados dos exames que o próprio governo aplica, como o IDEB e o próprio Enem. Se os pais não reclamam, por falta de conhecimento, cabe às autoridades e as lideranças da sociedade promover este aperfeiçoamento para que os programas de distribuição de renda percam o caráter assistencialista e se transformem em instrumentos efetivos de desenvolvimento. Só a qualificação do ensino no país poderá desbloquear a saída do Bolsa Família e proporcionar um futuro digno para milhões de brasileiros.
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