FOLHA DE SP - 28/12/11
BRASÍLIA - A caminho da Folha, parei ontem em frente à rodoviária de Brasília. Enquanto o semáforo não abria, vi no carro da frente uma mulher arremessar pela janela a embalagem amassada de uma bala ou barra de chocolate. No rádio, o locutor martelava com ufanismo que o Brasil termina este ano como a 6ª maior economia do mundo.
É chato ser estraga-prazeres quando há uma notícia boa, mas jornalistas somos assim mesmo. O menor problema do Brasil é se sua economia passará a do Reino Unido, como a mídia britânica noticiou. Um defeito grave por aqui continua sendo a falta de valores civilizatórios -e nenhum sinal de melhora desse cenário no médio prazo.
Basta refletir sobre a situação acima descrita: apesar do "PIBão", há hoje menos pessoas jogando papel na rua do que havia nos anos 90?
Segundo o vaticínio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, só daqui a 10 ou 20 anos o brasileiro terá o mesmo padrão de vida do europeu. E quanto tempo passará até as pessoas se tornarem mais educadas e civilizadas em público?
Na sua tradicional edição especial dupla de final de ano, a revista britânica "The Economist" traz uma reportagem longa sobre o Brasil. Título: "The servant problem". Em tradução livre, "o problema das empregadas". Trata da dificuldade atual da elite brasileira para encontrar uma funcionária que tire os pratos da mesa, lave a louça e as roupas.
"Na virada do século 21, o Brasil tem grandes similaridades com o Reino Unido de 1880", escreve a revista. Aqui, como lá há 130 anos, a elite reage e fica mal-humorada.
O Brasil, aponta a "Economist", tem mansões sem água quente na pia da cozinha, mas alguns paulistanos usam helicópteros e não possuem máquina de lavar louça.
Pelo slogan dilmista, "país rico é país sem pobreza". Rico o Brasil até já é. Faltam valores e bom costumes. E não apenas para quem é pobre.
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