FOLHA DE SP - 28/12/11
SÃO PAULO - Espera-se que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, prestes a assumir a Educação, seja do tipo que esquece o que disse. A amnésia seletiva de políticos não costuma ser vista como virtude, mas, assim como um relógio parado acerta duas vezes por dia, há casos em que a má memória de autoridades vem a calhar.
Em 2010, quando era candidato ao governo paulista, Mercadante prometeu acabar com a progressão continuada. Apesar de popular, tal medida seria um grave erro.
Se há um "non sequitur" no mundo da pedagogia, ele está na noção de reprovação, em especial nas séries iniciais. Existem duas possibilidades lógicas para o caso de uma criança não aprender: ou o problema está no estudante, ou no colégio.
Na primeira hipótese, não há muito a fazer. O melhor que a escola pode oferecer a esse aluno é um espaço de convivência que o mantenha longe de encrencas. Neste caso, retê-lo numa série só o separa dos amigos.
Se, por outro lado, a falha está no sistema, que não consegue ensinar, aí é que a reprovação não vai surtir nenhum efeito, tornando-se o equivalente pedagógico da mandinga.
É mais razoável, como prevê a teoria da progressão continuada, que a escola identifique tão rapidamente quanto possível os alunos que não assimilam os conteúdos e procure corrigir a situação. É claro que é mais fácil falar do que fazer. Para o sistema funcionar, é necessário que a rede pública desenvolva estruturas de avaliação fina, de aulas de reforço e de apoio psicopedagógico.
A implantação dos ciclos em São Paulo, iniciada em 1997, foi um desastre que deve ser debitado na conta dos tucanos. A mudança foi ditada de cima para baixo sem explicar nada a ninguém. Na prática, virou aprovação automática. Mas não é porque o projeto foi mal executado que a teoria deve ser rejeitada. Resta esperar que o ministro esqueça o que disse. Não seria a primeira vez.
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