O ESTADO DE MINAS - 28/12/11
Está no fim uma das mais difíceis barreiras que o Brasil, maior produdor de cana de açúcar do mundo, vinha enfrentando para tornar o Etanol uma alternativa aos combustíveis fósseis mundialmente aceita e mercadologicamente confiável, especialmente em substituição ou complementação à gasolina e o diesel. O Congresso dos Estados Unidos decidiu não renovar a legislação que impõe cotas à importação do biocombustível e que expira este ano. A taxa de US$ 0,54 por galão foi instituída com o propósito de proteger a produção norte-americana de Etanol a partir do milho, produto mais caro do que a cana plantada e moída no clima tropical do Brasil. A barreira funcionou e os Estados Unidos são hoje o maior produtor de Etanol do mundo, enquanto o biocombustível brasileiro enfrenta fase de baixa produção e preço incompatível com a proporção de 70% do da gasolina no mercado interno. Por isso mesmo, o acesso ao maior mercado do mundo, velho sonho dos produtores brasileiros de Etanol, que já poderia virar realidade a partir de segunda-feira, terá de esperar por pelo menos dois anos.
O fim dos subsídios ao Etanol dos Estados Unidos era mais do que previsto, restando apenas a confirmação de que os lobbies que movem o Congresso em Washington tinham mesmo se convencido de que essa política já não faz mais sentido. Mesmo com essa perspectiva de abertura do mercado norte-americano cada vez mais clara, o Brasil não teve como se livrar dos efeitos de desencontros entre governo e produtores, com imediato reflexo no desequilíbrio entre oferta e procura no mercado interno. Sem estímulos ou apoio de financiamento para renovação das culturas da cana e na expansão do parque industrial, o setor viu os investimentos perderem fôlego. Esse movimento coincidiu com a perda de safra em outros países, com a consequente elevação das cotações do açúcar, tornando mais atraente a produção dessa commodity de larga aceitação mundial. Houve mais uma coincidência negativa.
Pioneiro no desenvolvimento do álcool combustível, o Brasil teve a primeira experiência em larga escala nos anos de 1970, impulsionada por dois choques no mercado internacional de petróleo. Os motores movidos a álcool vieram em boa hora, já que o país não produzia mais do que 15% do que consumia de gasolina. Frustrado por vários obstáculos, o Proálcool caiu em descrédito e foi desativado por muitos anos. O combustível de cana seria retomado uma década depois da implantação do Plano Real e uma inovação tecnológica desenvolvida no Brasil marcou o início do que poderia ser a consolidação doEtanol no mercado interno: a chegada dos motores flex, que permitem o uso de gasolina ou Etanol, o que estiver mais em conta para o consumidor. Largamente aceito pelo mercado, o carro bicombustível logo se tornou um sucesso que, desde 2010, vem novamente frustrando o consumidor. Para mitigar o vexame, o país tem sido obrigado a importar aquilo em que pretendia ser líder exportador. Pego na contramão pela abertura do mercado dos Estados Unidos, o Etanol brasileiro terá agora que ser recuperado com seriedade, profissionalismo, sustentabilidade e estratégia por parte do governo e empresários, já que a natureza continua a fornecer sol e água e a terra permanece generosa.
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