A subversão pelos mercados
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11
SÃO PAULO - Os tais mercados estão subvertendo a ordem pública e a democracia, sem que se arrisquem a ir para a cadeia.
O caso da Espanha talvez seja o mais emblemático, embora esteja longe de ser o único. O FMI (Fundo Monetário Internacional) acaba de divulgar um relatório sobre a economia espanhola em que festeja o fato de que as medidas de austeridade adotadas pelo governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero "ajudaram a fortalecer a confiança do mercado".
Na minha santa inocência, eu achava que governos eram feitos para fortalecer a confiança do público, não a dos mercados.
O que pensa o público espanhol do governo que tanto agrada aos mercados? Rejeita-o tanto que lhe impôs, faz um mês, a mais contundente derrota da história dos socialistas em eleições municipais. Prólogo inevitável de idêntica tunda nas eleições gerais de 2012.
Essa dissociação governos/eleitores é geral na Europa, sempre por conta de que os governos se renderam aos mercados, depois de terem socorrido o sistema financeiro quando havia risco de um colapso geral, há três anos.
Não pense que é tema alheio à realidade brasileira. O Banco Central sempre faz saber que parte dos motivos para a alta dos juros -que mordem seus débitos, sua conta de cartão de crédito etc- é a turbulência na economia internacional, na Europa em particular.
Além desse efeito direto, há o fato de que o Brasil já passou por um, digamos, "golpe de mercado" em 2002, quando houve tremenda especulação ante a perspectiva de vitória de Lula.
O que, de resto, forçou o petista a adotar políticas sem nenhum parentesco com tudo o que ele e o partido haviam pregado nos 20 anos anteriores. OK, a guinada deu certo e quase todo o mundo está feliz. Mas a crise de 2008 demonstra que nada é para sempre.
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