FOLHA DE SP - 20/06
SÃO PAULO - A redução no preço da tarifa não pode encobrir o fato de que o centro de São Paulo virou terra sem lei na noite de anteontem, tomada por vândalos travestidos de manifestantes e abandonada pela polícia. Houve ataques a prédios públicos, saques a lojas e depredações.
A escalada da insensatez começou na quinta-feira passada, quando a polícia "arrepiou" um protesto pacífico. Todo o mundo apanhou: manifestantes bem-intencionados, manifestantes mal-intencionados e até mesmo não manifestantes.
Até então, embora a maioria da população simpatizasse com a causa original dos protestos (a redução das tarifas), havia uma ampla crítica às cenas de vandalismo protagonizadas dias antes por mal-intencionados, que, destruindo ônibus, metrô e pichando muros, imaginam estar promovendo a "revolução".
Pois Alckmin conseguiu perder a opinião pública. A pancadaria da polícia acabou por criar um sentimento generalizado de indignação, destampou insatisfações, ampliou muito a adesão ao movimento e o exportou para várias cidades.
E isso nitidamente acuou autoridades, que, desde segunda-feira, permitiram, não apenas em São Paulo, que os protestos avançassem para além do que pode se considerar aceitável numa democracia. A Assembleia do Rio foi depredada, o diretor-geral da Câmara dos Deputados foi agredido, agências bancárias foram quebradas em Porto Alegre e a Prefeitura de Belo Horizonte foi atacada.
Apesar de toda a poetização em torno do Movimento Passe Livre, e da efetiva redução na tarifa, é necessário registrar que seus líderes não condenaram enfaticamente os atos de vandalismo. Muito pelo contrário, os justificaram com o argumento de que eram fruto da "revolta popular" ou resultado da "intransigência" do poder público. Resta saber se o recuo de Alckmin e Haddad, um dia após a vandalização do centro, não servirá de estímulo para esse tipo de "método" de negociação.
Um comentário:
Infelizmente a análise do Rogério é extremamente simplista, pois o que levou a uma mudança de postura dos governantes foi o crescer do número de manifestantes e o ampliar das frentes de motivos que levaram à redução das tarifas. Acho que foi mais uma tentativa de cala-boca, pois os outros assuntos (corrupção, saúde e educação) gera muito mais risco político e custa mais caro. O vandalismo foi um percalço que infelizmente está ligado a grupelhos que se aproveitam ou pelo despreparo de alguns no conceito de cidadania. A insensibilidade e a prepotência do governo não se sentirá jamais refém de vândalos (que são condenados pela população votante), mas se assusta muito quando a população luta pacificamente contra os interesses pessoais dos políticos. Quando a população mexe do queijo gourmet dos antigos revolucionários, a coisa pega e aí vale "pagar" para tentar calar a boca da população.
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