CORREIO BRAZILIENSE - 20/06
Sem a contrapartida de fim das manifestações, a tendência é a continuidade da mobilização, em que as redes sociais funcionam como assembleia geral permanente, dia e noite. O PT nunca se viu tão pressionado. O mesmo vale para o PSDB no que diz respeito ao governo de São Paulo
De um lado os manifestantes. De outro, os partidos aliados. Os primeiros querem um pouco de tudo. Os políticos, idem, especialmente, romper o cerco a que foram submetidos pelos petistas. Em outro ângulo, a economia caminha lentamente. Ninguém mais tem dúvidas de que este momento é mais delicado para o PT do que o do mensalão. Em 2005, quando o Partido dos Trabalhadores viu-se acuado pelo escândalo, a resposta de Lula foi voltar-se para as ruas. Com a sua popularidade em alta e a distribuição de alguns cargos no primeiro escalão, ele resolveu o problema. Agora, é diferente. Os petistas não têm o povo na rua para defender seus governos. E nem os partidos estão todos aí para garantir a reeleição de Dilma Rousseff, deixando apenas meia dúzia de gatos pingados no papel de oposição.
Vale relembrar. Naquela temporada, ainda no primeiro governo Lula, os internautas brasileiros ainda não haviam descoberto o poder de mobilização das redes sociais. O PT, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), e o PCdoB eram capazes de levar às ruas mobilização em favor do presidente. O “fora Lula” ensaiado por alguns setores mais conservadores não pegou porque o povo estava ao lado dos petistas. Os partidos de oposição refluíram nos projetos de pedido de impeachment.
Da parte dos aliados do governo, o oferecimento de ministérios, como o da Integração Nacional, foi capaz de agregar mais um pedaço do PMDB ao projeto reeleitoral de Lula. Com o grande partido ao seu lado — e mais tarde a promessa de que o PMDB teria a vice-presidência em um projeto petista pós-Lula — o PT seguiu seu destino.
Nas eleições de 2006, com Lula revigorado e as ruas dispostas a sustentar o então presidente, o PT seguiu fazendo o que queria. Agora, entretanto, tudo parece diferente. Daí a reunião em São Paulo entre Dilma, Lula, Fernando Haddad, e o marqueteiro João Santana. Eles tentam bolar uma estratégia no sentido de evitar que o PT seja espremido entre manifestantes, partidos e a economia.
Enquanto isso, em Brasília...
A cúpula do PMDB bem que tentou, mas não conseguiu segurar a autoconvocação da Executiva partidária para a próxima terça-feira, 25. Na pauta, o planejamento eleitoral para os estados. A principal mensagem desse encontro será cavar espaço para os peemedebistas: Ou o PT cede a cabeça de chapa e palanque único para o partido de Michel Temer em praças importantes, ou os votos para reedição da chapa presidencial ficarão comprometidos. Ou seja, aquilo que o PMDB apenas comentava como uma ameaça, sem atitudes, agora ganhará corpo com a reunião da Comissão Nacional Executiva, o grupo que manda.
E em São Paulo…
O recuo tardio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito Fernando Haddad, em relação ao aumento das tarifas tira o bode da sala. Mas daí a convencer os jovens de que não há mais motivos para novas manifestações é outra história. Até porque os governantes anunciaram cortes de investimentos simultaneamente à revisão no preço das passagens. Além disso, não houve uma negociação que garantisse o fim dos movimentos de rua. Sem essa contrapartida, a tendência é a continuidade da mobilização, em que as redes sociais funcionam como assembleia geral permanente, dia e noite, e reivindicações não faltam no sentido de obrigar novas ações por parte dos governantes. Pior para quem está no poder.
Agora, na avaliação de muitos, chegou o ponto em que ou os petistas cedem na política a aliados e ao povo na elaboração de uma agenda de obras e serviços (o mesmo vale para os tucanos em relação ao governo de São Paulo), ou podem ver comprometida a manutenção de suas administrações no futuro. No caso do PT, que deseja a reeleição, o efeito sanduíche nunca foi tão forte.
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