domingo, março 10, 2013

Economias desenvolvidas lutam com políticas ruins - MOHAMED A. EL-ERIAN


O ESTADÃO - 10/02

A sequência pela qual medidas políticas confusas contaminam as condições econômicas é preocupante- mente familiar. Com uma grande exceção nestes dias: como foi demonstrado pela eleição italiana na semana passada e, mais ainda, pela disfunção no Congresso dos Estados Unidos, isso se tornou, de forma incomum, mais frequente nas economias avançadas do que nos países em desenvolvimento. Assim, as consequências sistêmicas são maiores e menos previsíveis - especialmente porque não existem soluções rápidas no horizonte.
A sequência normalmente tem início com anos de desempenho econômico decepcionante que causam desencantamento e frustração entre os cidadãos. Hoje, nas economias avançadas, isso assume a forma de crescimento anormalmente lento, desemprego persistentemente alto e desigualdade de renda e riqueza cada vez maior.
Os cidadãos reagem com uma combinação de protestos, distanciamento e rejeição. A ordem política existente fica debilitada. Os partidos tradicionais lutam para manter sua relevância. E, em alguns casos, partidos e movimentos alternativos emergem e tornam-se peças importantes do jogo do poder- relevantes o suficiente para evitar alguns resultados, mas sem força suficiente para liderar.
Muitas vezes, sem o desenvolvimento de alternativas políticas duráveis e confiáveis, a dinâmica governamental fica mais complicada e instável. Em alguns casos, chega a estimular distúrbios sociais.
Isso então fornece o feedback negativo que atinge a economia. Os programas de reforma dos governos tornam- se ainda mais difíceis de se implementar. A base tributária encolhe à medida que o setor privado fica mais ansioso. E o crescimento geral do "risco político" junta-se às incertezas dos investidores, desencorajando o investimento e minando a criação robusta de empregos.
Com as economias avançadas representando hoje uma parte crescente desse fenômeno, as implicações sistêmicas para os países emergentes (incluindo o Brasil), são significativas. Elas corroem o crescimento global, aumentam os riscos de atritos e tensões de natureza econômica (incluindo guerras cambiais) e expõem ainda mais os déficits de legitimidade e representação das instituições multilaterais existentes.
Bem, chega de desafios. E quanto às soluções?
Experiências históricas sugerem que, infelizmente, soluções rápidas e ordenadas são frequentemente ilusórias. Em alguns casos raros, um líder nacional brilhante surge, agindo como um imã para a unidade doméstica e o compartilhamento de responsabilidades. Na maioria dos casos, contudo,acaba sendo necessária uma grande crise econômica/política/social para agir como catalisadora de movimentos nacionais que redefinam o contexto político e coloquem a economia de volta a um caminho de crescimento mais sustentável.
Com a polarização política ainda em alta em muitas economias avançadas, é difícil ver a ordem política existente coalescendo em torno de um líder nacional unificador. E com a maior parte desses países ainda um pouco distantes de uma crise doméstica, é difícil identificar uma outra força catalisadora que possa forçar uma melhor governança política e econômica.
É verdade que o Banco Central Europeu (BCE), com o suporte do governo alemão, impediu no momento a possibilidade de uma debacle financeira na maioria dos países-membros. Mas os políticos locais não estão explorando suficientemente essa cara janela de oportunidade para estabelecer condições para reformas que durem vários anos. Assim, os transtornos econômicos nas economias periféricas (incluindo Grécia, Itália e Espanha) permanecerão reais e profundos, notavelmente com o alto desemprego e um alarmante desemprego de jovens.
Nos Estados Unidos, um Banco Central hiperativo vem conseguindo contrabalançar o impacto da disfuncionalidade do Congresso. Mas o tempo que ele está comprando para o país não vem sendo bem usado. Em vez de tentar superar suas diferenças, democratas e republicanos estão mais interessados em brigas e adiamento de decisões. E, assim, eles impedem que a economia americana, que gradualmente se recupera, atinja velocidade de escape.
Nos próximos meses, não devemos esperar mudanças extraordinariamente positivas na grande maioria das economias desenvolvidas. Infelizmente, é mais provável que a atitude de empurrar para frente as questões econômicas e financeiras continue, e que a frustração com os partidos estabelecidos estimule o interesse por partidos alternativos e movimentos de protesto.
As economias emergentes, incluindo o Brasil, estão certas em questionar o que isso significa para elas.
No nível mais básico, as economias emergentes não devem mais depender da economia global como uma importante impulsionadora do crescimento e da estabilidade financeira. Pelo contrário, elas devem se voltar à crescente importância das redes regionais e do tipo Sul-Sul. Porém, considerando a sua base de partida muito baixa, isso só trará uma contribuição marginal, no melhor dos casos.
Mais do que nunca, a melhora do padrão de vida no mundo emergente é uma função das políticas domésticas e do setor privado doméstico.
Com sólidas posições financeiras, a maioria dos países está em condição de conquistar bons resultados. E importante para eles que isso seja realizado para reduzir a vulnerabilidade dos seus cidadãos a uma fluida economia global, que se torna mais imprevisível mês a mês. / Tradução de Terezinha Martino

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