FOLHA DE SP - 10/03
Mais importante que a estratégia ou o sistema tático é a falta de um craque no meio-campo
Apesar de Ronaldinho brilhar no Atlético-MG, como no jogo contra o Strongest, e Kaká ser reserva no Real Madrid, vejo Kaká com mais chances de atuar bem e de ajudar, coletivamente, a seleção. Se fosse escolher pelo que joga no clube, Zé Roberto, do Grêmio, mereceria ser titular do Brasil, mesmo com 38 anos.
A atuação excepcional do meia Modric, também reserva no Real Madrid, ao entrar no segundo tempo, após a absurda expulsão de Nani, do Manchester United, mostra porque Kaká não é titular da equipe espanhola. Os dois seriam destaques em quase todos os outros times do mundo.
Antes das vitórias sobre Barcelona e Manchester United, muitos diziam que a causa da má campanha do Real Madrid no Espanhol eram as brigas entre o técnico Mourinho e os jogadores. Ninguém mais fala nisso. Mourinho sempre adotou a tática do terrorismo, da pressão e do confronto com os atletas. Infelizmente, pelo comportamento infantil, a maioria dos jogadores, mais ainda no Brasil, desde que o técnico seja brilhante, como é Mourinho, gosta de treinadores autoritários, que punem e que, depois, premiam.
Além de Kaká, Felipão convocou dois volantes mais marcadores, Luiz Gustavo e Fernando. Tudo indica que um dos dois vai entrar no lugar de Ramires ou de Paulinho, ou que o time jogará com três volantes. Neste caso, sobrariam três vagas do meio para a frente (Neymar, Kaká e Fred). Oscar e Lucas ficariam na reserva, no momento em que os dois mais precisam jogar para evoluir.
Outra possibilidade é David Luiz jogar como Edmílson na Copa de 2002. Edmílson era um terceiro zagueiro, quando o adversário tinha dois atacantes, e passava a ser um volante quando havia apenas um atacante fixo.
Contra a Inglaterra, o problema não foi ter dois volantes que avançam (Paulinho e Ramires). Foi colocá-los mais atrás, como típicos volantes, sem fazer o que sabem melhor, que é tomar a bola mais à frente e continuar a jogada até o gol. A marcação por pressão, quando bem feita, protege a defesa, pois dificulta para o adversário trocar passes. Mais importante que ter vários volantes é ter um meia de cada lado, que marque e ataque. Oscar e Lucas têm feito isso bem na Europa.
Independentemente da estratégia e do sistema tático, o que mais falta à seleção é um craque no meio-campo, organizador, pensador, que jogue de uma intermediária à outra e que seja o elo, a sinapse, entre os jogadores e os setores.
Paulinho, dos brasileiros, é que mais se aproxima. Se Ganso fosse treinado desde as categorias de base para jogar dessa forma, talvez fosse hoje esse craque.
Esse tipo de armador foi apagado da memória da maioria dos mais antigos e/ou nunca existiu para os mais novos, como se fosse uma fantasia de cronistas e de torcedores saudosistas e românticos.
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