FOLHA DE SP - 19/04
Depois de décadas de pesquisas, cientistas finalmente descobrem a cura para o pesadelo
Alguém aí saberia dar um recado em coreano chosono, que vem a ser a língua falada na Coreia do Norte?
Faz tanto tempo que não vou para lá, que me estreparia toda se tiver de mandar eu mesma. Minha pronúncia está tão enferrujada que não saberia se estou pedindo uma vodca em russo ou um chá em manchuriano. Na última vez em que estive em Pyongyang, o Kim no poder ainda era o pai de Jong, que vem a ser o progenitor do atual Sung.
Ai, que saudades da Guerra Fria! Era tão mais fácil quando os mocinhos estavam do nosso lado, andavam de Aston Martin e cheiravam a Brutt. E nós deixávamos as crises existencialistas, as brochadas e o cachecol que pinica para o lado de lá da cortina de ferro com os arruaceiros do Baader-Meinhof e a histérica da Oriana Fallaci --eita mulherzinha insuportável, aquela escritora de best-seller.
Veja bem: sempre andei com todo tipo de gente, sempre fui mulher de várias turmas. E, depois que o Costa-Gavras largou a Oriana, adivinha se não ela encanou comigo?
A mulher deu para querer pegar todo santo namoradinho que eu conseguia arrumar a duras penas. Nem mesmo Carlos, o Chacal, ela deixou escapar. E olha que o Carlos, o Chacal, era uma espécie de Xico Sá da época, a gente só encarava quando até o Charles Manson já tinha desmaiado atrás do sofá de tanto tomar cleriquot de cidreira e LSD (era um drinque da moda em Punta, sabe?).
Mas eu ia dizendo. Já tive meus momentos na Embaixada da França em Pyongyang com Sartre, Simone, Mao, a sra. Mao (mal-humorada essazinha dessa china, não me admira que tenha acabado tão emburacada) e o casal Kim e dona Kim.
E é por isso, por conhecer tão bem os avós do querido Kimucho, que eu queria sugerir a ele, ditador amado, um dos últimos de uma nobre estirpe que faz tanta falta, os ditadores, que, em vez de mirar seus mísseis para as bases norte-americanas em Guam, que pensasse com carinho na possibilidade de mandar uma bomba atômica expressa na direção das ilhas Cagarras, bem na frente do litoral que vai dar ali no Leblon, Gávea, Horto, sei lá, pode chegar até Botafogo, que seja.
Não, não tenho nada contra o carioca "per se". Ao contrário, como boa paulistana recalcada, morro de inveja daqueles corpos dourados sem um pingo de gordura que levitam pelo calçadão diante de minha barriga leitosa e cheia de marcas.
Acontece que soube pela Danuza que os donos de 250 cadeiras cativas do Maracanã estão indo à Justiça para garantir o direito de assistir aos jogos da Copa sentadinhos em seus lugares de direito.
Vem cá: em que mundo eles vivem? O evento pertence e foi vendido à Fifa. Só eles não sabem? O Brasil está realizando um evento internacional, e os bacanas querem garantir o deles, só o deles, a individualidade deve prevalecer, é isso?
Ora, que belezuca! Pois os donos das cativas do Maraca deveriam ser apresentados ao pessoal de mente aberta de Higienópolis, bairro aqui de São Paulo, que foi contra a construção de uma estação de metrô por não querer a circulação de gente "diferenciada" no seu bairro.
Essa gente que insiste em viver agarrada a um passado de injustiça é a mesma que não entende porque os índices de violência continuam a subir, e que não faz o menor sentido baixar maioridade penal para mudar isso. O único jeito de interromper um pesadelo é acordando, não?
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